sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Não é mentira que tenho um corpo inflável.


E nem é mentira que tenho um papagaio de plástico.

Não é mentira que preciso, como uma criança de um bichinho de pelúcia.

Nem tampouco é mentira que o corpo do avesso é melhor do que o de direito.

Nem mentiras são as verdades que exponho com duplos sentidos, e me falo.

Nunca é mentira quando falo de Elisa, de Teresa, Macabéa ou Doralice.

Tenho duplos, e tenho medos, e tenho dor de barriga, e tenho amigos, fome e sede.



É tudo verdade quando se trata de uma mentira bem feita.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

À Boba de Clarice

fui te buscar, querida. fui ao cúmulo do universo.

sei das intempéries e do fausto pobre que te cerca...

e do quanto estás só...

busquei-te nas ruas, minhocas e avenidas.

entanto, protegida pelo sonho de ser nada,

vagavas. eu buscava em cada canto, em cada esquina.

busquei-te como quem busca uma pureza antiga

uma pureza antiga dum verso sem rima.

como quem cata piolhos na ternura de uma crina.

busquei-te e te vi nas incertezas, malas, aviões, e

navios sem esquina. praças, ruas, dormitórios crus,

sem abajours. sem chuveiros de água colorida.



encontrei-te dormida sobre colchoes na calçada.



porque te amo, te busquei insone, em noites mal dormidas,

macabéa, mauricéia, dulcinéia, pessoa sem sentido.



das lágrimas que teus olhos caem fiz-te um vestido branco.

sem nós, sem seda, sem nódoas de tecido.

apenas um vestido travestido da miséria humana.

eras..foste..existes...és! a minha, sempre

eterna, etérea, simples macabéa triste.

transmudas seres...existes... todavia. 

em teu corpo branco outrora residia

um negro ser que te vestia...

á, como te quero antes do passado..

antes do que te vestia, dessa veste branca

dessa veste infame...á, como eu te queria!)



sonhei teus sonhos mas era eu quem me dormia...

era eu...e tu só resfolegavas

as babas do cigarro, catarro de pulmões

que já não vivem...macabéa triste..



na mochila do teu rosto triste

um passado...macabéa que já não existe

fomos, eu para o lado da ventura

tu, alegre sem saber-se - quem sabe um dia,

encontramo-nos?: eu, pobre, tu, do outro lado da avenida.

cercando-nos, à toa o ritmo cego e fútil dessa vida.

embora lúcidas e sobrevividas, sobrevivem tolas, mansas e caídas.

como quem ri, e ri-se à toa, tola, tola... sabe-se tão mal querida.



- ri, amada, ri - que o mundo não passa de uma vala

onde o ser desmaia, a morte desanca a pele louçã dos que - ó!

pensam-se alegres e desmaiam-se na vala comum

dos tristes! - morte, um íntimo vulgar insulto.

macabéa, triste, digna, hirsuta,

passa com desdem, ora vai, ora vem...

e atravessa o tempo - o tempo...que não tem vivido!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Insípida - 06.11.2009 (Véio China disse eu insípida...rsrs)

Acabo de chegar de um bar virtual. Lá eles me chamaram de insípida. Achei interessante, porque eu pensei que não tinha nada de insípida. Mas, tudo bem. Às vezes essa minha lengalenga pode ser mesmo um saco! Nada demais. Nada demenos. Talvez a escassez de palavrões, ou a a exagerada exposição do eu acabem tornando a criatura insípida mesmo. Pura repetição, conversa de divã de psicanalista (ei, por falar nisso, uma vez peguei o meu dormindo: dor-min-do!)...Por pura insipidez, contei-lhes a estória da Lindalva. Agora falta contar a da Suley, e tem outra, que não lembro agora. Todas tem um nome e são verdadeiras insipências. A vida, né, que fazer, às vezes é mesmo INSÍPIDA.
Antes que eu fora gente, ainda no útero, tive um sonho. Sei qe ussi pe syrrealm* nas nunca é mentira. Desde que eu assuma.


*que isso pode ser surreal

Da inspiração

Eu que preciso tanto de inspiração...


que busco no cheiro do ar e no vento da terra

Eu, que me escondo nos varais e me estendo

inteira em manto triste...



Eu, que me quedo pensativa,

divina como deusa ardente

apenas me ausentando

da tua partida.

falar com as paredes

- Esqueça as promessas, esqueça os beijos, esqueça as mãos que se arrastavam silenciosamente pelas curvas, esqueça tudo. Me esqueça!
Digo às paredes mornas do calor da tarde, que parecem escutar entre a solidão que se arrasta no meio  delas.
Tornei-me amiga das paredes. botei-lhes nomes e endereços: parede da sala, da
cozinha..
O  analista me perguntou (no tempo em que eu era pirada): você fala sozinha? Pior, doutor, não só falo como respondo.
Falo com as paredes, quem não fala...?

grande feito

Como quem vai realizar um grande feito, sento no banquinho duro e começo a longa jornada. De manhã à noite, esvaziando as palavras no buraco negro da tela em branco. Depois, vem a sensação de vazio. Penso que acabou tudo, mas ainda tem palavras. Elas dançam intermitentes no meu pensamento levando embora as cores que eram antes das palavras. Já não sou mais, agora sou ex definitvamente. Busco a vida tateando esse teclado e ouço o som de tlec-tlec-tlec até que me sinto tonta, enjoada e parto para outras palavras, agora a leitura.


De fato, me enojo tambem. Reluto diante de uma escapadela ao boteco. Preciso ser um pouco animal e sair pelas ruas. O som das pessoas, porem, raramente - melhor dizendo, tambem me antoja.

Reclusa, cumprindo pena autoimposta (já dito antes) de solidão sem direito a condicional, porque nas poucas vezes em que me dei esse direito, me dei mal.

Fico fazendo o jogo das palavras e me perco, distinta do resto da humanidade; resta-me um banquinho duro e a falta de água. Tenho que ir ao boteco. Minha sede é eterna, aspiro a morte"



(A outra morte de outra Maca chora, Valéria...rs por mim....!)
É interessante o que pode gerar uma personagem universal... Releituras, vestidos novos e/ou puídos... (Eduardo Perrone)




Acho que Macabéia é assexuada. Incorpórea, embora manifesta pelas pegadas visíveis. E Olga ( ahhh ... a Olga...) bem entende a moça! Afinal... Quem disse que placenta jogada no lixo hospitalar não germina? (Roberto Klotz)
"Macabéa somos nós travestidos de crianças


Enquanto o tempo nos consome.

Macabéa é mulher e é homem.

"""""""""" Eduardo Perrone.....
Há um bardo ânsio de vômito.
Vomito o ócio.
Criativo.

como se (pretérito perfeito?)

Antes que eu nascera,
Já me houvera em parto

Meu pai errou a data,
Eu nascera depois.

(E adoro escrever nesse tempo de verbo,
é como se não houvera).

Fosse, então...Usá-lo-ia em tempo passado.

É sempre a sensação de como se.
Fora.

Quisera decidir no tempo vago.

Vivo entre ócios e delírios.

(Seria esquizofrenia? )

Soubera eu usá-lo (o tempo)

Riria de mim.

Rira.

dantes

Antes que eu nascera, já houvera um parto
Meu pai errou a data,
Nascera depois.

(E adoro escrever nesse tempo de verbo,
é como se não houvera).

Fosse, então...Usá-lo-ia em tempo passado.

É sempre a sensação de como se
Fora.

Quisera decidir no tempo vago.

Vivo entre ócios e delírios.

(Seria esquizofrenia? )
 
Soubera eu usá-lo (o tempo)
Riria de mim.
Rira.

na calma da minha casa

Vejo copos sujos. Tenho que tentar alguma forma de organizar essa bagunça que faço.
Tenho que tentar limpar o banheiro todos os santos dias, manter a roupa limpa e cheirosa, a louça lavada, manter alguma coisa para comer na geladeira (aliás, teria que comprar uma geladeira), pensar na saúde, voltar a fazer ginástica, parar de comer porcarias na rua, tenho que, tenho que, tenho... que ter tempo e não tenho (tempo).

Totalmente desorganizada, procuro a energia num copo de chá quente, procuro as contas para pagar, vejo as datas, algumas vencidas. Se fosse pobre, diria, preciso de um marido. Se fosse rica diria, preciso de uma empregada.

Brinquedo perigoso

teu corpo de lã
de algodão macio
reverbera um vago som
um vago som de fantasia
boneco de pelúcia
brinquedo perigoso
teu corpo,
teu corpo preguiçoso,
exala um segredo

o meu responde mudo
ao compasso do carinho
(podes ser apenas um gatinho!)

?és? verdad qué
(Y no quiero enganãrme)
jugas con fuego...bromas)
dejarme...a mi, herida?
verdad y no quiero engañarme,
jugando con fuego,
dejar que me hizo daño?

Lavando a boca

Menina não diz palavrão, senta de pernas fechadas.
E daí por diante. À mesa, garfo e faca, bem comportada.
Sempre calada. segredos às partes mais íntimas,
nunca contados, sempre fuxicados entre risos, entredentes
fechados. Cárie no dente da frente.

Diante de Deus

Confusa porque me perdi Dele. E as notícias das coisas que ocorrem no ceu se perderam entre as estrelas e a minha consciência que pesa como chumbo derrretendo meu cérebro.

Bela Cintra

Então...passo do cálice ao vinho. Erguem-se brindes à minha volta, e fico muda. É uma festa, há pessoas e comidas e bebidas. Repito para convencer-me, alguem escuta: - é uma festa!. É, M.A.J.M, é uma festa.

Visto o vestido de cor bronze-dourado, na útima moda, arrepio os cabelos e ponho bastante laquê, e já estava lá.

- Saúde! Saúde! Invocam aos deuses, como se fosse verdade.

Empurro os olhos em direção ao colo do meu vestido bronzeado e fico triste. Ninguem percebe, mas eu continuo triste até não dar mais. Então, saio à francesa (ninguem viu)

Na rua, um táxi me espera. Escolho o primeiro da fila, como se fosse algo inédito (eu sempre esqueço essa história de filas, não nasci para entrar nelas). O jovem pergunta:
- Onde vamos, senhora?
- Ahn?
- Onde a senhora quer ficar?
- Ficar? Ah, sim, pode pegar a Bela Cintra.
Logo logo estava em casa. Pendurei o vestido bronze no cabide de lavanderia, de ferro,
e fui dormir toda maquiada. Isso é festa, então, dormir maquiada.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Macabéa, a Farsante

Foi enfim desmascarada. Nao é nada do que dissera: nem pobre, nem feia, nem aleijada. Sobra-lhe tempo e dinheiro, é uma farsante, talvez tenha usado drogas.
Atualmente, vive em um pequeno palacete doado por um de seus amantes ricos, tem jóias, carro vermelho-sanguíneo e já cometeu o crime de colocar um pouquinho de botox.

Na verdade, é uma escritora famosa, premiada num exterior longíncuo e esconde o currículo para que ninguem saiba. É membro de uma Academia Feminista de Letras, dirige espetáculos pseudosbarraintelectobarramusicais, canta, dança, toca piano e violão.

Reune a nata da intelectualidade paulista contemporânea no seu mini-palácio onde todos bebem vinhos chilenos, franceses e alguns brasileiros indicados pelo Ronnie Von, convidados geralmente sofisticados que fumam charutos cubanos e perfumes de primeira linha, na verdade, intelectuais, a cúpula da PUC, políticos em ascenção, jornalistas em ascenção, todos assentados em almofadas de seda marroquina, incenso exalando ares benéficos, petiscos exóticos - como os asiáticos grilos fritos ao molho shtywbernh, e algumas cositas importadas por outro amante que é comissário de bordo  de uma empresa aérea. Gatíssimo.

Mais, muito mais, descobriu-se sobre ela: que vive de 30 porcento de uma quantia razoável  e vislumbra o aumento desse percentual para um futuro a curto prazo.

Mais, muito mais: que é cleptomaníaca, pelo visto, dado que roubou um par de óculos escuros e um maço de cigarros, quando já havia decidido parar de fumar.

Tem um príncipe secreto secretíssimo que é, na verdade, o sustentáculo, o mote, a inspiração da literatura que faz e manda aos ares.
Escreve aos pares e despacha pelo ar.
É isso. E tem mais.

diante do espelho

Paro exausta
A alma cansada
Diante do espelho

A imagem
Desgasta
Responde em apelo:
Cuida de mim,
Cuida!
Prometo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

tirei da tarde

Tirei da tarde
Tudo que ela continha:
O doce de goiabada
O licor de maracujá
O aroma do café
A face da faca
Fincada no bolo
A cereja de cima

Tirei  a cara do meu amado
No porta-retrato da sala,
A saudade... Tirei
Outro amor desastrado

A tarde ficou vazia

passando a frio

Passando a frio
O cabelo engomado

Quente do banho
Meu corpo anseia
Um calor
Desconhecido

execração

Corria na rua agoniada


E a turba de mãos

A que fora condenada

Corria atrás apedrejante



Da forca, a corda

Na mão esquerda



E à direita

O gume

Da faca do cadafalso.



Esquia como um alce

Morena, Jamba, Adocicada,

Mas...tinha, ó pudera...!

Cometido o crime de adulterado.



O pecado em seu rosto,

E no corpo

Marcas de chicotadas

ainda sob efeito

Fluoxetina, é isso? A doutura me recomendou. Não receitou porque não pode. Mas recomendou. Aí eu tomei duas doses de poesia, algumas gotas de cachaça, umas latinhas de cerveja. Ao lado, um cara enorme tocava um violão delicioso -  outra dose. A Ingrid acompanhando com sua voz tímida e sua doçura forte abençoada por uma mãe maravilhosamente companheira. Tomei uma pequena dose de inveja.
O César amigo que me recolheu na porta do cemitério no penúltimo sarau e sua namorada meiga e curiosa com tanta intimidade entre gente mal desconhecida, foi uma dose alegria vê-lo tão bem se refazendo da tragédia, Deus te abençõe.
- Quem é você? Perrone, não acredito!
- E você, Wilson R? -  como é diferente das fotos! E esses olhos verdes?
My God, estão chegando Ruy&Ruth!...Olha que coisa mais linda essa mulher e esse homão.
- Pensei que você era gay. - E sou, bem...! Prazer te conhecer pessoalmente.
Pausa para um beijo ardente.  Não preciso mais da substância.
Vou  escutar o "mar beixando a areia", e desapareço por uma meia hora o que foi suficiente para deixar a minha divina artista e anfitriã (Edeline) preocupada.
- Giovanni, Baby! - você é lindo! Ele  acrescentou que de noite fica mais bonito ainda. Tem testemunhas.
Closes na abundância da Blá-Blá. O encarregado de assuntos eróticos (Perrone) fez o trabalho. Uau! Uma dose de sensualidade tambem está na receita. Beleza, outro ingrediente.
Essa menina chamada Bárbara derrama tudo com a maior naturalidade: meiguice, poesia, sensualidade fresca e seriamente perigosa, outra dose.
Dizem que fiquei "chapada". Overdose quando o Boni olhava dentro dos olhos da platéia em estado de choque enquanto ele declamava o Wilson. Como era mesmo o nome da Humanidade?
A Tv papocava para todo o lado, e nosso RP, muito assediado. Excyting.
O Cris me ofereceu umas palavras tão assombrosamente receptivas quase ao meus ouvidos: muito prazer, bemvinda, credo! Nunca fui tão bem querida. A dose aumentava. A doutora não tinha receitado tanta fartura. Cuidado! Ela dizia com os olhos. Mas a fluo...como é mesmo...? me endoidava.
Nas vezes que o Ruy pegou o violão e entoou umas autorias, foi a dose de emoção que faltava, alem da voz da Rutinha declamando suas profundidades.
Chegou um casal distribuindo dose bem alta de palavras, letras bordadas num livro bonito. Deu de graça. Over, over...!
Foram dois Henriques, eu confundi. Já estava para lá de ... Ubatuba. estava em Paraty.
Agosto de 2010.

domingo, 8 de agosto de 2010

11-20 de 45 4 ago (21 horas atrás) ♥ Valéria


essencia de fundoooo... psicológico? hehehehehe 4 ago (21 horas atrás) Tim

Olguita, não entendi o espírito da coisa.

Sei lá, acho que faltou um pouco mais de informação.



Mas é só minha modesta opinião. 4 ago (21 horas atrás) Daniel

hirsuta eu não conhecia, interessante... Bom, sei lá Olguita, estranhei este, hehe... 4 ago (19 horas atrás) excluir olga

Avicularia hirsuta é uma espécie de aranha pertencente à família Theraphosidae (tarântulas). 4 ago (18 horas atrás) Wasil Sacharuk

A aranha perde os pelos quando "ela" passa? 4 ago (18 horas atrás) excluir olga

Condição observada em MULHERES e CRIANÇAS quando há um excesso de pelo corporal com um padrão de distribuição adulto masculino, como em áreas facial e peitoral. É resultante de altos níveis de ANDROGÊNIOS dos OVÁRIOS, GLÂNDULAS SUPRA-RENAIS ou de fontes exógenas. O conceito não inclui HIPERTRICOSE, que significa crescimento excessivo de pelo independente dos androgênios. """"" 4 ago (18 horas atrás) excluir olga

é,



acho que se trata de uma mulher cabeluda.



Talvez na planta dos pés.



Ou talvez quando depila doi muito.



Depedaça pelos. Sei lá o que é isso....! 4 ago (16 horas atrás) Creito

mooor!



fala pelas entralinhas né? 4 ago (16 horas atrás) Véio China Ψ





Isso dói!






Credo!



Pô Olguita! isso é um poema ou orientação hormo-capilar?



Mei doidim, né?



hehehehe 4 ago (15 horas atrás) excluir olga



Creitim, aqui a gente tem que ser óbvia, será? (só vc me entende)



Será que esse povo nunca viu uma hirsuta atravessando a rua de salto alto? putz, haja paciência...

gracias pela leitura atenta e inútil porque não entenderam.



bjs. primeira
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Hoje nem quero a boemia ("aqui me tens...")

Quero hoje apenas ser como a barata de Clarice. Hoje nem quero arriscar na minha pobre literatura. Quero ficar feliz por alguns instantes, firme na disposição de atrelar-me à mágica que aconteceu, e deixá-la aqui acrescentada ao resto do dia, um que se acaba lânguido na solidão das minhas asas aparadas.

Mais um domingo, este, no entanto, definitivamente feliz.

Nem quero plagiar mais (ao que disse que sou plágio). Não entendo bem o que seria isso, deve ser alguma coisa que acontece na hora do parto.

Hoje nem sou mais eu nem sou Clarice, muito menos Macabéa - hoje, sou só absurdamente, idiotamente, feliz, Olga.

Tenho em mim que foi muito bom o BDE na FLIP

Tenho em mim o que eu pudesse ter
E mesmo que não tivesse, eu o faria!
O poder de amar e compreender
Um gesto de amor e de alegria,
Um abraço, á Deus, quanta poesia
No Bar do Escritor, onde escrevo
Posto reposto, ganho tomates e
Confetes...às vezes, da maioria...
Tenho em mim agora a emoção
Da confraternização,
De abraços, longos, apertados,
Tantos homens de boa-vontade!
E as  mulheres tambem
Tanto som e excelência...
Tudo tão organizado...

Parabens Giovani  baby e Cris,
Deveras....

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

despedançando na chuva com Bandeira (p/poucos)

A garoa caia, e o tempo acelerava.

Meu passo era sombrio, como uno

Era o espaço que me unia ao mundo.

A chuva apertava.



Havia despertado tarde do sonho.

(Era um sonho de tarde);



Caminhando passeei torturas e

Comi pão pelo diabo amassado.

Andando na chuva por horas a fio.

Um frio intenso despedançando a alma.



"Tosse, tosse, tosse".

"A vida que poderia ter sido".

Já não é mais encharcada.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Nômada

andanças
errâncias
acertos

erros
discordâncias
vivo

a nômada
inconstância
dessa vida
que afere
inútil

ao tempo
vã!

inscrevo
em letras
maiúsculas

minúsculos
músculos
veias
artérias
ventre

vida
errante
11-20 de 45 4 ago (21 horas atrás) ♥ Valéria


essencia de fundoooo... psicológico? hehehehehe 4 ago (21 horas atrás) Tim

Olguita, não entendi o espírito da coisa.

Sei lá, acho que faltou um pouco mais de informação.



Mas é só minha modesta opinião. 4 ago (21 horas atrás) Daniel

hirsuta eu não conhecia, interessante... Bom, sei lá Olguita, estranhei este, hehe... 4 ago (19 horas atrás) excluir olga

Avicularia hirsuta é uma espécie de aranha pertencente à família Theraphosidae (tarântulas). 4 ago (18 horas atrás) Wasil Sacharuk

A aranha perde os pelos quando "ela" passa? 4 ago (18 horas atrás) excluir olga

Condição observada em MULHERES e CRIANÇAS quando há um excesso de pelo corporal com um padrão de distribuição adulto masculino, como em áreas facial e peitoral. É resultante de altos níveis de ANDROGÊNIOS dos OVÁRIOS, GLÂNDULAS SUPRA-RENAIS ou de fontes exógenas. O conceito não inclui HIPERTRICOSE, que significa crescimento excessivo de pelo independente dos androgênios. """"" 4 ago (18 horas atrás) excluir olga

é,



acho que se trata de uma mulher cabeluda.



Talvez na planta dos pés.



Ou talvez quando depila doi muito.



Depedaça pelos. Sei lá o que é isso....! 4 ago (16 horas atrás) Creito

mooor!



fala pelas entralinhas né? 4 ago (16 horas atrás) Véio China Ψ

Taquespariu!





Isso dói!



Fiz ontem minha depilação escrotal com o Filisheive. (descobri que aparando os pelos bem rentes...o bimbelo fica maior! E como estou numa fase de querer impressionar (????)



Credo!



Pô Olguita! isso é um poema ou orientação hormo-capilar?



Mei doidim, né?



hehehehe 4 ago (15 horas atrás) excluir olga

Véio, tem coisa que não tem jeito...se for o caso, é melhor se conformar.





Creitim, aqui a gente tem que ser óbvia, será? (só vc me entende)



Será que esse povo nunca viu uma hirsuta atravessando a rua de salto alto? putz, haja paciência...





gracias pela leitura atenta e inútil porque não entenderam.



bjs. primeira
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hIRSUTA

hirsuta


no seu passo duro

metálicos sons

saltam dos sapatos



essa é ela,

aquela que

hirsuta

despedaça pelos 4 ago (1 dia atrás) ♥ Valéria

duvido que essa dê ibope! hehehe 4 ago (1 dia atrás) excluir olga

tá ruim assim, Vau?

achei tão legal....ela hirsuta.



rss



vamu ver...aqui é laboratório (aliás, a Ivone disse isso ontem)...



Se não der "ibope" é sinal que não é do agrado das multidões.



Ai, o ator retira-se sob apupos.





kk..

Bjs, Vau. 4 ago (1 dia atrás) ♥ Valéria

... é, tudo bem! Vá bene... quero ver quantos puxa-sacos vc tem tá? hehehehehehe

vc é rica? 4 ago (1 dia atrás) Allan

Eu não sei se entendi (a menos que seja dedicado a uma depiladora cabeluda).

Mas gostei dos sons da bagaça. 4 ago (1 dia atrás) ♥ Valéria

... eu acho que a olga esta esmigalhando um barbudo ou uma cabeluda... um dos dois. Pisando assim... tipo: baratinha mesmo. sei lá, creio... 4 ago (1 dia atrás) excluir olga

Vau, sou rica, sim, uma das minhas grandes riquezas é a generosidade.



Puxa-sacos, eu? Nunca tive. Tenho raros amigos que sabem bem o quanto sou "dura".



No mais, tudo bem.



Outro bj.



Allan, se vc gostou, gracias.



Bj tb. 4 ago (1 dia atrás) Fulaninha

valéria, não hirsuta que o texto tem essência. rss 4 ago (1 dia atrás) Allan

A Olga (embora pareça não saber disso... rsrsrs) me é muito querida. 4 ago (1 dia atrás) excluir olga

Fulaninha sabe das coisas.....gracias.....bj







Allan, não sabia não. Fiquei sabendo agora, fiquei hapyy.....bjs.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

hirsuta

no seu passo duro
metálicos sons
saltam dos sapatos

essa é ela,
aquela que
hirsuta
despedaça pelos
Não se sabe o que aconteceu naquele período que antecedeu à morte. Talvez dores ou outras agonias intrínsecas, talvez nada mais do que um abalo no coração. O cérebro já estava morto. Não havia mais sinais vitais. Era um corpo sem pensamentos, sem contatos com a consciência. Ela  só tinha que ficar apertando aquela espécie de fole para que o ar circulasse e mantivesse vivos os pulmões. Tinha que seguir um rtimo de forma a garantir essa circulação para manter o pai vivo.

No entanto, de repente, num súbito lance de desistência, ela foi afrouxando a mão, diminuindo o ritmo do ar, até que sabia que o ar não seria suficiente para provocar o falso movimento que levava o ar para dentro do corpo morto.

Trocou com o médico um olhar misto de cumplicidade e espanto, e que a perdoe Deus, parou de apertar aquele objeto parecido com um desentupidor de pia.

Naquela hora, o último sopro de vida artificial que sustinha um pai estancou. Agora uma vaga lembrança, uma saudade doída e sentimentos confusos - "você matou seu pai", soava dia e noite aos seus ouvidos, como uma sentença vinda de sons divinos, do Dador da Vida.

Ela não tinha esse direito. Agora só lhe restava morrer tambem, só esperava a hora certa, mas sabia tambem que essa hora não haveria, que ela tambem teria que decidir com sabedoria a hora de parar de respirar e de viver essa vida artificial de culpa.
Desde sempre, sempre, sempre
Desde ontem.

Cláusulas em requerimentos
Virei autodidata.

Preenchi formulários
E um receituário

Desde ontem, ontem, ontem
Virei mitica solitária
Quando a menina-coisa virou mulher-objeto começou a escrever uns versinhos, umas coisinhas que postava numa comunidade onde havia gente muito interessante, gente nada interessante, gente arrogante, e gente com varias personalidades (o que na comu chamam "fake"). Certamente ela estava encaixada numa dessas categorias ou senão em todas.




A editora devolveu-lhe os papéis digitados em fonte Roman 12, e disse-lhe rispidamente: - De quinta categoria! Assim mesmo, sem dó nem piedade.



A mulher - vamos dar um nome à criatura: Macabéa Alice, não se importou muito. Ela sempre soube disso. Os professores diziam: menina, continue escrevendo, ela rasgava. Os cadernos cheios de poeminhas rimados que ela aprendia a fazer na escola com aquela professora de Português, Tania, rasgava todos, às vezes até queimava. Daquele tempo, já tinha instintos autodestrutivos. Coisas de menina-coisa.



"O público (alvo)*sentido amplo, prefere poemas eróticos-sensuais, com toques pornográficos, alguns palavrões ou insinuações explícitas (existe?). Querem cenas de cama, mulheres ardentes e violêntas, poedrosas, Nada dessas meninas meiguinhas que vem do interior, etc, etc, isso é lixo. Realmente, seu estilo é meio ruinzinho: Um dia ela é escritora na variedade poesia, outro dia escreve contos (que são chamados nanocontos, o que até hoje não entende - deve ser questão de espaço na comunidade), e outro dia qualquer ela tem uma espécie de diarréia verborrágica, despeja um conjunto de palavras que desencontradas formam uma visão até, por que não dizê-lo, ó céus - profunda da forma como ela se vê. Centrada em si mesma, nada de poesia social, feminista. Nada. A menina-coisa só escreve para não morrer mais cedo do que o previsto nas contas do Diabo.
nasciturna


nasci e morri

no mesmo dia



enterro e gloria



velas

incenso



foi-se a vida



num mesmo

instante



foi morte 2 ago (2 dias atrás) ***Edy

Bacana, Olga. Lembra um que escrevi e começa assim: Nasci ontem, hoje estou morto. Mas o meu é mais ácido, o seu é mais sereno. 2 ago (2 dias atrás) Yzzy Daniel

muito bom..singelo , leve e sensível. Gostei..é o tipo de poema q derrama lirismo . 2 ago (2 dias atrás) Daniel

Nanovida... rs 2 ago (2 dias atrás) excluir olga

é, um tipo de "conformação". rs





gracias. 2 ago (2 dias atrás) Luiz Carlos

Olga é dez!



"Nasci e morri num mesmo instante" 2 ago (2 dias atrás) Creito

olga é foda. 2 ago (2 dias atrás) excluir olga

Gracias, LC e Creitim...



NASCITURNA. 2 ago (2 dias atrás) suzana

bacana... 2 ago (2 dias atrás) excluir olga

gracias, Suzanita. primeira
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taciturna


quebrados os versos

espalhei

pelos cantos da casa

papeis amassados



cenho franzido

revirando cacos

procuro

o encanto que foram

os versos jogados



quebrados pedaços

reuno meus traços

outro mundo de versos

me aguarda

em paz 23:17 (9 horas atrás) excluir olga

quero o taciturna junto do nasciturna. up. 23:18 (9 horas atrás) Creito

hahahahah



sua boba. 23:19 (9 horas atrás) Hadassa

olha o cenho 23:21 (9 horas atrás) excluir olga

he he creitim...nosso caso de amor poético...é uma fábula...



um vôo.





olha as asas (Hadassa). 23:21 (9 horas atrás) Tim

Que doidera, gostei. 23:23 (9 horas atrás) Ivone fs

se não fosse a palavra "paz" no final do seu poema eu ainda tava perdidinha no meios dos papéis e idéias...jogando e pegando de volta...rasgando, colando, amassando





rsrsrs 23:24 (9 horas atrás) Creito

(: 23:26 (9 horas atrás) David

Curti um bocado.



Vida de poeta é difícil mesmo. Tem-se que ir na veia.



Concordo com Ivone. 23:26 (9 horas atrás) Márcia

gostei demais, olga.

aguarda mesmo.

1 beijo daqui. primeira
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última

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

saindo do túmulo

Saída do túmulo, ainda meio morta fresquinha, Macabéa levantou a cara amarelada e viu seu príncipe indo embora pela estrada afora.


Não era a primeira vez que um príncipe ia embora. Mas é que foram-se embora muitos príncipes, e isso é um desperdício de realeza.
- Onde vais?, pergunta a moça.
Ele olhou-a com desdem e nem se deu ao trabalho de responder à sua pergunta. Ela teve a ligeira impressão de que o viu cuspir de lado. Não duvidou, era bem seu estilo: palitar os dentes à mesa, colocar os cotovelos sujos em cima da toalha, chupar os ossinhos da galinha escaldada que gostava de comer às terças-feiras, arrotar, e ainda por cima essa de cuspir para o lado.

Menos mal, um príncipe a menos. Iria em busca de outro, agora novinha em folha, peito aberto a novos amores, novas aventuras. Estranha essa nova Macabéa. Antigamente ela não era de fazer essas coisas, mas agora ah! agora é vida nova!

Tinha aprendido algumas coisas úteis que poderiam servir na hora de se relacionar com esses machos empedernidos que andam por ai. Mas era tudo segredo. Segredo seu a quatro paredes. Nisso, o passarinho de plástico que ela comprou na vinte e cinco começou a cantar lá na cozinha. Apesar da porta aberta, ela ouviu, e isso sussurou-se um presságio aos seus ouvidos. Não era nenhum rouxinol, era de plástico, tão colorido que doi, mas...vá lá, Macabéa não mudou tanto assim.
hehehe... eu tenho um papagaio de madeira... fica lá na minha sacada... as vezes até eu me espanto pensando ser de verdade. Imagine os passaros que passam por lá...hehehehehe fico pensando o que os pobres passarinhos pensam, tipo: o beija flor entra no jardim e pensa que patso de passaro é esse que não se mexe, não canta, não beija flor! Cada uma! hehehehe. Então... o principe foi embora... vou contar o plano. Ela sabia que ele iria... apesar de não suportar a ideia, era assim que tinha que ser. maca sabe tudo de si(inconscientemente).


Olguita vamos combinar... vc escreve sobre maca e eu explico tá! hehehehehe

sempre bom ler maca. Ah! Sim... acuspida de lado foi acompanhada de uma bela coçada nas regiões baixas. hehehehehehe 30 jul (3 dias atrás) excluir olga

Quando Macabéa entrava em casa não se ouvia ruído nenhum. A casa era um silencio mortal. Depois que ela comprou seu pássaro de plástico, agora a casa tem vida. O bicho espera ela abrir a porta da cozinha, e alí está, com seu canto receptivo. Ela está apaixonada, e quando não canta, o pássaro, Maca pula, pula na frente dele até ele fazer aquele ruído mecânico parecido com um canto de gralha (talve tenha comprado o pássaro errado). Não importa, mesmo assim ela está apaixonada.



E pede que Deus ponha na sua conta a inocência de gostar tanto de pássaros. 31 jul

E pede a Deus que ponha na sua conta tambem o amar o cheiro das árvores depois da chuva, o barulho do mar, as ondas batendo e voltando para o seu lugar de origem "daí não passa", a maciez do beijo de mãe que nunca teve, um abraço apertado de pai que nunca deu, até por ser desajustada Macabéa pediu perdão a Deus.
Por se sentir só, quando Ele estava à disposição. Mais perdão.

Resolveu escrever um anúncio no jornal. Não, não era uma procura de Deus através dos classificados, nem tampouco um pedido de emprego. O anúncio trataria de uma espécie de proclamação à vida "que poderia ter sido e não foi".

Amem.

vade retra, Maca.

Domingo acabando. Por fim. O fuso horário de Maca alterou-se ontem à noite. Lembranças, velhos amigos, muitos desconhecidos, resultado: domingo na fossa. Alem da ressaca, ainda teve que lidar com o desconforto de uma chuveiro gelado. Queimou a resistência. Ah, nessas horas como faz falta um homem, como faz! Num instante ele trocaria a resistência, enquanto você segura a escada e ouve milhões de xingamentos contra o maldito chuveiro. Mas tá aí a água quente de novo.



Outro detalhe em que o homem faz falta no domingo: o futebol na tv. Ai, que saudades daqueles gritos de "porra! vai lá, cara! chuta! - putz (etc, etc) cara burro, até eu faria esse gol, juiz safado, filho da p...."



Mais um: macarronada. Hoje, por exemplo, comeu miojo a pobre Maca. Nada daquele panelão cheio de molho, e ainda, salada de entrada. Nada de cerveja tomada na lata, aquela toalha xadrezada na mesa enorme da cozinha, Filhos, sogra, genros e noras, e netos...ah, os abor dos netos...!



Mas, que história é essa Macabéa?, tu nunca tiveste filhos, nem marido, nem sogra, nem cunhadas, nem netos tu tiveste, infeliz! Pega teu vinho barato, toma de um gole só no copo de requeijão (herança do antigo morador), veste a camisola de flanela e vai dormir, desgraça. 20:21 (10 horas atrás) Ingrid

Sempre te lendo, gosto demais. Sabe querida amiga, aprendi a instalar chuveiros.bjs 20:30 (9 horas atrás) Véio China Ψ

hahahahahahaha.



Olguita, misborrachei de rir aqui.



O pássaro de plástico foi um must.



Mas..esse domingo e daquilo que poderia ter sido foi demais.



Hilário!





hehehehehehehehe



É impossível não te ler!!!



hehehehehe 01:09 (5 horas atrás) Creito

eu só sei dizer que te amo, e isso não é atoa...rsrs



eu gosto muito da sua forma de expressar, da sua forma de ser...

é uma grande, grande pessoa.



adoro, você, macabéa... =]



beijo óga, um dia vo te ver. 06:12 (16 minutos atrás) excluir olga

Macabéa estava linda. Tanto que quando chegou à padaria para o seu sanduiche diário de mortadela as pessoas se viraram para vê-la com sua botinha bege, o casaco novo (bege), e uma echarpe colorida linda, linda. Tinha batom na boca e um olhar cheio de música. Como sempre, cantava para dentro. Um homem ao lado comentou: música antiga, mas ficou ouvindo.

Não que ela cantasse alto, mas ele ouvia. Um caso raro de sintonia musical. Quando ela saiu, depois de tomar seu suco com sanduiche, ainda ouviu uma voz gritando: Macabéa!

Alguem a tinha reconhecido, não das novelas, mas dos sanduiches de mortaleza (desculpem a rima, mas naquela hora ela ainda era poeta. Apressou o passo, antes que a alcançassem e correu para o abrigo da sua kiti.
Ligou o computador, passeou pelos emails, pelos bate-papos, foi parar no velho orkut. Há três dias sua página continha 1443 recados. Nenhum recado novo. Nas comunidades, muita poesia. Estava farta de poesia. Achava que o tempo não estava para poesias. Nuvens negras cobriam os céus de textos.



E foi assim que ela desistiu de ser poeta.
........................................................................................................

Ela foi criada a seco: no sertão dos Inhamuns. Água de pote, essas coisas que todo mundo está cansado de saber. Mas foi criada a seco de carinho de beijos de abraços.

Quem a vê hoje não acredita que teve bicho-de-pé, piolho, empinge, papeira, foi mordida por cobra, rato, e as baratas caminhavam nos cordões da rede.

Mas a maior secura que deve ter sentido foi a secura de carinho. Quando nasceu, sua mãe, com aquela caracteristica nordestina de ter filhos um atrás do outro, tinha três bebês. Eram como se fossem trigêmeos tão pequena a diferença de idade entre eles. E o pai nem olhou na sua cara de joelho (só nariz, repete a mãe até hoje), porque queria era mais um filho macho.

Talvez precisasse gritar muito para conseguir um peito, ou ficasse molhada muito tempo antes que a mãe pudessse vir trocar-lhe as fraldas. Mas no sertão é assim mesmo. Filho é quase como mais uma lagartixa na parede. Sobrevivem. Secos e grudados até que se mudem para a cidade grande. Isso não mudou, nada, meu deus? Continuam por aí, espalhados pelo mundo, grudados em palafitas e caixas de papelão. E ela se perguntava há muito tempo atrás: que fiz eu da minha vida. Ora, veio para a cidade grande. Então, seus parentes comentam não sem um certo ar de orgulho e condescendência: ela foi embora pra São Paulo. E os outros que querem vir (ainda doce ilusão), ficam imaginando a vida de glamour e liberdade que a a artista fracassada (ei, eles não sabem disso)deve estar vivendo na grande cidade. E bate a inveja e bate o telefone: "menina, ai como eu gostaria de ter a tua coragem!"

Estão sabendo de nada. 

domingo, 1 de agosto de 2010

A festa de casamento das-lu

Todas as mulheres estavam de vestido londo
Ela, de vestido curto
Todas as mulheres estavam de cílios postiços
Ela com seus cílios ralos
Todas as mulheres estavam acompanhadas
Ela estava só
Todos arrumaram cadeiras e se sentaram
Ela ficou de pé
Todos se serviram do jantar
Ela ficou enjoada
Todos ficaram, ela foi embora
No seu táxi amarelo
Ele esperava lá fora
Com frio
Era o espaço das-lu
Foram para o  baião de dois
Das-pu

segunda-feira, 26 de julho de 2010

angst (para vós)

Vós não sabeis o quanto


Essa agonia, essa ilusão
Tira de mim o sono
Me desarma
Mancheias se procuram
Acotovelam-se em leque
Nesta vã mansarda de alegrias

Mas não tendes a mesma fantasia
Formas e sede de alforria
Que ao meu ser encanta
E enerva

Sou e não ao tempo em
Que me inscrevo
Inútil, fútil, reino no absurdo
Etéreo, doce,
E fluido
Mundo de não ser
Que não é vosso

domingo, 25 de julho de 2010

Portas

De onde


Se abrem

Para onde

Se fecham,

Para que

Servem?



Portas,

Que segredos

Despertam...



...Quê as faz

Tão belas?



Às vezes

Tenho ganas

De mantê-las

Fechadas



Às vezes

Tenho ganas

de mantê-las

(- Entre...!)

Abertas

quinta-feira, 22 de julho de 2010

poema texto da tua fala II (O Reencontro)

Enquanto falavas, debruçava-me nas tuas palavras
Deliciava-me com os teus delírios.

Onde andavas, moço - que te conheci tao velho..? (rimos)

Enquanto falavas, o turbilhão aceso das tuas palavras
Mais que ácidos, mais que estrelas, estraçalhavam
O mínimo de consciência que restava.

Teus braços longos percorriam a toalha.

Dedilhavas uma música intoncável com teus dedos ágeis
Perdido em outras nuvens, outros amores (eu tambem de mim)
Homem alvo do cabelo ralo.

Desenho um tempo irrecuperável
Na marca de batons mutáveis da tua boca
Entre céus estranhos, climas, ruas, elementos diferentes.

Era então amor?

Pergunto:
Aquela sensação de ficar juntos, mãos sentadas,
Tamborilando bossa e balbuciando a letra da "nossa" canção...
O que nós chamamos fossa?

E enquanto falas, e ainda tamborilas
As palavras simples da canção aos meus ouvidos,
Penso que breve, muito breve, vamos nos amar de novo.

"Bate outra vez, com esperança no meu coração...
Pois já vai terminando o verão...enfim!"

terça-feira, 20 de julho de 2010

eu queria...sabe o que eu queria?

que a saudade
arrebentasse!

essa coisa dolorida
inferniza
eterniza a tristeza
mata aos poucos
filha de uma porca!

vai, saudade,
arrebenta
esse peito antigo
mata, assassina,
enfim
sem piedade!

enfia teu punhal,
sangra-me a 0,2 porcento
deixa-me asmática
anoréxica,
cachorra louca!

me vacina contra a raiva
me trucida com teus pés de aço
estraçalha, condenada!

só te peço, infeliz
do meu sistema linfático:
afinal,
tudo de uma vez!

domingo, 18 de julho de 2010

a linda

ela era linda
bela, jovem e brilhante
seu celular não parava um instante
tinha amigos, dinheiro e saude a esbanjar
mas, se foi, pobre criança
para o mesmo buraco
que vai nos levar
seus olhos cegos
e brilhantes
nadavam
náufragos
na escuridão

braços caminhavam
e pernas
impeliam...

corpo ao nada.

destino ignorado
respirava
o ar pétrido
gélido da madrugada

nas mãos um saco de pão
e a bengala branca
o vento gelado
entumescia
donde lágrimas desciam
no rosto enrijecido

(feito Lázaro
fiz-me vento
ao seu lado)
Destacadas a cem por hora, as paisagens percorriam o tempo formando imagens rápidas e quase incandescentes.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

casamento

eufóricos
aneis
rolam nos dedos
alianças
conluios
histéricos
desejos

o cronista cansado

Entediado, inquieto, acuado, caminahando sem rumo entre os três metros quadrados de parede que o cercam, ele tem que exercer diariamente a sua função de cronista, mas hoje, especialmente hoje, não sabe por que. sente-se como um soldado que vai à guerra sem armas. Pergunta-se há quanto tempo isso vem acontecendo e com quê frequência.

Às vezes, quando está inebriado por algum licor, alguma dor ou alguma contradição ou sofrimento que o amor causa, o cronista escreve com facilidade. Mas, para desgraça do pobre homem, hoje o vazio é de dentro, de onde ele tenta buscar algo e não sai nada. Garimpa entre os pedaços de papel espalhados dentro dos bolsos, escritos em contracapas de livros lidos e relidos, alguma inspiração, algum mote, uma lembrança "quando eu era pequeno, na cidadezinha do interior, onde não havia água e o gado morria de sede..." um detalhe impulsor para a largada na corrida inglória.

Relê antigos artigos que talvez possam ser alongados, destrinchados, multiplicados, transformados, performanceados por novos personagens, mas a aridez da procura mais o enerva e contrai.

Telefona a um amigo para saber noticias, mas está tudo meio vago na sua mente, não consegue concentrar-se, e, daí, conclui: vai ter que debulhar seu próprio coração e  confessar  inconfessáveis, destrinchar a alma até então disfarçada por trás de cotidianos de outros, de pensamentos alheios, de vidas roubadas por escutar conversas nas mesas de bares.

Agora debruçado sobre o computador, as costas arqueadas, sem os óculos que acabou de perder na bagunça da sala, começou a escrever com os dedos retesados.

Hoje, meus caros leitores, não tenho nada a lhes contar. Hoje, quando o mundo parece acabado, terminado, e minha tarefa obrigatória tronou-se extremamente difícil, tenho que confessar com a força bruta que me impele em direção às teclas: estou vazio, que lhes posso dizer - vocês  que esperam com avidez a  alegria das minhas crônicas diárias, desse ser que sou tão descompromissado com as tristezas da vida , fútil e fazedor de risos?

Que caiu água fria da minha torneira? - que o chuveiro queimou, que sinto muito frio, e ainda estou enrolado no meu cobertor xadrez, sem forças para esquentar a água e tomar um café solúvel com o pedaço de pão amanhecido que espera em cima da pia - que não sonhei essa noite passada, que não amei na noite anterior, que não sai do casulo, que meus livros estaõ velhos e eu detesto pesquisa pela Internet, e que ninguem me ajuda, nenhuma inspiração divina ou algo que o valha. O pão olha para a minha cara amassada, que sequer lavei ainda, meus olhos ardem com alguma espécie de alergia, que...não sei.. - e o meu celular fica dez dias sem tocar...que vou e volto à rua, ao banco, à lavanderia, ao supermercado, à farmácia, e nada de novo, nenhum fato... Que a decadência das minhas letras já me estão anunciando um futuro amargo e sem pão adormecido?

Que dizer-lhes? Que ninguem me ama, ninguem me quer, ninguem me chama de meu amor, isso a Maisa já disse. Que o meu mundo caiu? Tambem ela ela já sussurra aqui nos meus ouvidos doces. Que tem dias que a gente se sente, como quem partiu...ou morreu,  - o Chico, ah!, o Chico disse todas as minhas palavras.

Faltam dez linhas, o tempo suficiente para esquentar a água, tomar o meu café com pão, tomar um banho frio, escutar o Mano Chao:" ya estoy curado, anestesiado, ya he me librado de ti"...ah, meus caros, como falar com uma pessoa vazia como eu? A máquina brilha na sua tela e me cega, eu, velho bobo, como vou  buscar futuro num passado tão distante? Ajudem-me, por favor: não me leiam, não me leiam hoje.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Boa-noite, pessoa.

Não há a menor chance, pessoa.
Já sou página virada.

À noite, quando me deito
Fantasmas espantam meu corpo
Para um vazio ocaso.

E asas depressa me levam
Dispersa a um mundo distante...
Meu corpo fica aguado
Sem gosto, se sabe

(metafísica, a vida é curta,
andemos na passarela
com o mais extremo cuidado)

Sou feita de linhas tortas
Frases mal acabadas,
Sou uma estátua de sal.

Sensação estranha carmicome
Lenta, salga a minha carne.

E tem mais, pessoa:
- Eu não sei beijar!...

bOA-TARDE, PESSOA

Ele é um motorista de táxi. Trabalha dez, doze horas por dia. Mora a quarenta quilômetros do seu ponto, de onde parte todos os dias santos e profanos e trabalha até a noite seguinte. Não tem fim de semana, nem feriado, férias, folga. Ela, uma artista fracassada em busca de refazer um passado. Eles se conheceram durante uma corrida de táxi. Chovia forte, ela fez o sinal e ele parou, e, no percurso de meia hora, trocaram todas as confidências - impossível! - que um casal de velhos costuma trocar. Foi uma conversa intensa sobre medos, casamento, filhos, esperança e solidão.


Ele disse:

- Vou te esperar aqui.

- Não, por favor, vou demorar muito...

- Não importa vou te esperar aqui.

A fonte, raiz, maiz, a gênese daquela história foi essa aí acima descrita.

Ele esperou, ela voltou e a conversa foi retomada com a mesma intensidade. Um encontro de solidões fortemente armado pelo "destino", ou pelo "acaso".

Ela disse
:

- Você não pode pensar assim, porque vai acabar tomando mais um decisão errada sobre a forma de vencer a solidão. Como outro relacionamento frustrado.

Intimidada pelas palavras que vulgarmente se chamam "cantada", veio o medo, a descrença, as esperanças incubadas num coração medroso, o desesperança de não saber mais amar, medo de ser traída, e - pasmem, de ser agredida, vítima de um bandido, de um psicopata (ela vê muito na tv). A mulher ja desconhece o corredor que leva ao pátio onde dormem os amantes, não compreende por que os homens não desistem do amor quando elas, por sua vez, pôem-no de lado, como numa prateleira, encostado esperando calmamente a vez que talvez não venha nunca mais. "Por opção", elas dizem. Pelo menos ela disse.
Ele prometeu levá-la ao Largo do Batata, ao shopping Aricanduva, ao Museu do Ipiranga, ao Bixiga, ao Bar do Damião comer baião-de-dois, e que ela não pagaria mais a corrida de táxi.o  medo bateu desordenadamente dentro do coração dela, miudo, cheio de frio. O que ele terá pensado, estaria (ela) à venda, 18:47 (26 minutos atrás) excluir olga

O que ele terá pensado, estaria (ela) à venda, já teria um preço marcado na sua testa?

Ou seria mesmo a solidão desesperada que levou-o a confessar com uns olhos molhados, tão impulsivamente sobre uma atração fatal, irresistível de que estava tomado?

Seria verdade?

A mulher disse não e foi embora, triste, golpeada pela chuva fria e fina que ensopava seu rosto junto com as lágrimas.
a vida ficou quieta de repente
sem o brilho, a alegria
que aguardava

só frio
e o velho cobertor
agasalhava

terça-feira, 13 de julho de 2010

Bom-dia, pessoa;

7:30 da manhã, um frio...! Toca o interfone, ela acorda assustada. Estava sonhando com seu filho magro e alto que, no sonho esbarrava com ela na porta do banheiro durante o início de uma english class com Mr. Bryan, fazendo número e, ao lado, num apartamento que se vislumbrava muito bonito, pela tamnho da sala, cortinas brancas esvoaçantes nas janelas góticas, o pé direito altíssimo de onde luziam os lustres de cristal dependurados, alguns senhores elegantes fumavam charuto e um deles tocava ao piano uma música belíssima (Bah...?).

Na realidade, ela estava deliciada com a música e preferiria ficar ouvindo-a do que ao famoso " the book is on the table".

Porem, Mr. Bryan, com todo aquele charme, aquela elegância que lhe era peculiar, pois afinal o homem era made in England, fechou a esplêndida janela, ao tempo em que meneava um gesto com a longa cabeça de cabelos avermelhados,como que  se desculpando aos vizinhos.

A música virou um som de interfone rouco e seco. Ah, som que odiava. E o seu filho tinha esbarrado nela, estava descabelado como quem acaba de acordar, com aquela cara linda e um sorriso. E a música (Bramas) que soava ainda aos seus ouvidos cheios de barulhos já do dia que tira a gente da cama,  onde estava seu filho, os lustres reluzentes, Mr. Bryan, a música de Chopim...

Ela queria voltar para o sonho...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

É muito triste estar (redundantemente) triste
Não perceber a alegria

Aonde ela se esconde?

Mas...E se essa tristeza
Passar de repente
E de repente (redundantemente)
Vier um laivo de alegria...ai, que maravilha!
Essa menina triste que me habita
Se alegraria toda cheia (redundantemente) de alegria

Quem sabe em um supermercado
Um lugar comum tão redundante nessa vida

Um espelho que reflete, uma figura bonita,
Um carrrinho de compras
Pode ser uma esperança

Olhos atentos na lista:

O suficiente de sobreviver
O pão, o vinho, a escova de dentes,

Lá (redundantemente) não se vende a alegria

domingo, 11 de julho de 2010

preciso dormir
porque enquanto acordada
me mato

não muito longo poema sobre o frio

estou fria
não sei se é gelo
ou fantasia
de pinguim

?estarei morta?

domingo

não sei como vencê-los,
não sei...

primeiro, acordo
depois me desespero
fico na cama rezando
para que não seja verdade -
que não seja domingo!

Mas sempre é.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

cama mesa banho (ya estoy curada)

com forças que desconhecia


com a fúria dos ardentes

amei teus dedos quentes

deslizando debaixo dos lençois



amei-te na cozinha

na cama, mesa e banho

com requintes de sabedoria

fazia o bife e as batatinhas



na alegria e na dor

uma vez morremos juntos

(amei-te mais ainda!..)



tantos anos em letargia,

sem poesia, só te amava

minha parte gente entanto

morria doce/amarga



amei-te tanto e já de ti me esqueço

extenuada enfim

descanso



hoje me pergunto: em que cama

em que mesa, em que banho

regurgitando espumas

quanto: - me amavas?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

outsider

ponho o ponto antes de terminar a linha
costuro os versos apenas entrecheios
as palavras com carinho e desvelo
mas, num cálculo estranho e alheio
desenho os moldes de contagem
e os versos nunca vem a dois e dois
nem quatro a quatro e muito menos rimados

são linhas irregulares feitas geralmente muito mal
(feitas) - desenhos irregulares, modelados,
desequilibrados na forma, e no conteudo desigual
porque seguem os passos da minha alma, essa tão
descolorida e afeita a desconcertos...tão normal!

sigo os passos andarilhos de poetas vis perfeitos
que costuram em prosa e verso o que eu tento
absurdamente imitar no contexto da inveja
esse ser do bem/do mal.

Matem, joguem pedras aviltrem e desmantelem,
cusparadas e joguem na latrina dos poetas párias,
obreros itinerantes, pífios, ridículos e fracassados.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Façamos algo prático:

Para começar, um bolo
Sim, um bolo de chocolate

Depois você sai e arruma um emprego
Que ninguem vive de poetar
E de comer bolo de chocolate
para que sujar as mãos de tinta


ou mudar os móveis de lugar



digitar as letras que não cabem

na garrafa

que vou me lançar ao mar...



para que mudar o rumo

prumo para o leste ou p´ro oeste...?

- tanto faz..!



poeira pairando sobre o pó

partícula pisoteada



quem me chama...

quem me implora, quem me clama

alem da morte... ?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Amei-te com umas forças que desconhecia


e com vísceras expostas entreguei-te pensamentos

os mesmos que usaste contra mim



Amei-te com a fúrias das ardentes

os teus dedos quentes deslizando debaixo do lençol

buscando o gozo, a alegria - satisfi tuas fantasias



Amei-te quando na cozinha,

no requinte da minha pouca sabedoria

fazia o bife à milanesa e as batatinhas



Na alegria e na dor, quando morremos juntos

ao caixão do nosso filho...amei-te mais ainda



Amei-te cada dia que passou e cada longo ano

extenuado na retribuição falha e desarmada

com que me mandavas "cala a boca"



Amei-te tanto que fiquei calada

Tantos anos em letargia, estagnação...sem poesia,

só te amava



Amei-te tanto, tanto que esqueci que existia

esquecia de me amar - ato falho da minha parte



Agora que não passas de lembranças agridoces

(doce/amargas) - sinto em calma absoluta,



Amei-te e já de ti me esqueço - que comidas,

que roupas eu passava, qual vassoura eu usava

pra limpar a nossa casa...?

domingo, 4 de julho de 2010

Eu te amei, homem

Te amei com umas forças que desconhecia
e com vísceras expostas entreguei-te pensamentos
os mesmos que usaste contra mim

Amei-te doce, sincera e ardentemente:
os teus dedos quando deslizavam por debaixo do lençol
procurando o teu gozo, a tua alegria - satisfi tuas fantasias

Amei-te quando na cozinha,
no requinte da minha pouca sabedoria
fazia o bife à milanesa e as batatinhas

Na alegria e na dor, quando morremos juntos
ao caixão do nosso filho...amei-te mais ainda

Amei-te cada dia que passou e cada longo ano
extenuado na retribuição falha e desarmada
com que me mandavas "cala a boca"

Amei-te tanto que fiquei calada
Tantos anos em letargia, estagnação...sem poesia,
só te amava

Amei-te tanto, tanto que esqueci que existia
e esqueci de me amar - ato falho da minha parte

Agora que não passas de lembranças agridoces
(doce/amargas) - sinto em calma absoluta,

Amei-te e já de ti me esqueço - que comidas,
que roupas eu passava, qual vassoura eu usava
pra limpar a nossa casa...?

beija flor beija

beija, flor, beija...

e a flor talvez te retribua
leveza que a flor inventa

que o amor inventa
que o amor acaba

desmancha-te
inventa um novo beijo

um amor novo

tira essa dor da cara

essa dor
de página virada

beija, flor, beija...
Nada em comum,


eu diria na minha

parca sensibilidade.

Eu e Frida,

Duas,

A sós,

Para sempre,

Na eternidade.

Danças

Parafusos

Um astro

Que se interpÕs

Entre nõs

E a criatividade.

sábado, 3 de julho de 2010

Roubaram a minha fala

Roubaram a minha fala. Todas as palavras que eu ia dizer, já foram ditas. E repetidas.
Por isso me calo, recolho-me à minha insignificância poética. Mas não largo o cobertor quadriculado que me enrola. Sou poeta com frio. Não sobrou nada da bebida ardente que me aquecia. Pobre e só, resta aquecer-me os dedos no teclado macio, dedilhado com a ternura dos solitários de sábado à noite, e sonhar que sou poeta -  talvez uma desculpa para esse abandono a que respondo com escárnio: e daí? Não será o sábado apenas outro dia, igual aos outros..?

Porque não vejo nada na rua, vejo apenas um muro enorme erguido entre mim e a alegria dos namorados, os beijos trocados nas mesas de bar, os sons erguidos para alem dos meus ouvidos, as conversas loucas, divertidas, dos que se encontram e se aconchegam nessas noites frias? Só por isso? Ou haverá mais um motivo escondido
por debaixo desse cobertor - um corpo frio, talvez desejando outro corpo no mesmo esconderijo (será)?

Mas sábado à noite não é hora de responder perguntas tão difíceis. Melhor não perguntar ao corpo, ele é malcriado, cheio de vontades.

Outros solitários me respondem em versos tão calados, tão pungentes. Sinto assim que não estou sozinha. Estou nesse mundo virtual onde passa-se o tempo enorme, tão vazio.

- Um chá? Pergunto-me e me respondo: não, obrigada! esse negócio de tomar chá enrolada num cobertor quadriculado parece filme, e não quero virar artista de filme de terror.

poema tijolinho

hoje acordei-me michael jackson
cássia eller,acordei-me estrela ao
caos, riscas de giz, na minha tela.
o dia mal se apronta ainda negro
vai vestir-se logo mais de abacate
sei disso porque hoje acordei-me
estrela - o dia todavia dorme. seu
manto ainda cobre a janela -  abro
aos pares o vento frio dói, magoa,
corta a escuridão. o dia me acorda,
cheio de surpresas(?) ah, quem me
quem dera ... é apenas mais um dia!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Não sou,


Mas o meu feitio

Talvez restabeleça

Algum olhar profundo

E resista

Algum lampejo

Que, a olho nu,

Você talvez não veja



Enquanto eu fora um mistério,

Tudo bem

Pero ya no soy...

Que mais tu queres,

Anjo Meu?



Que volte o tempo?

Naõ carece.

Que meus olhos brilhem como

os teus?



Um dia a podridão

Comerá teus olhos

Teus belos ossos...

Como comerá os meus
ah, se fosse lindo
eu faria estrelas
uma a uma
e te daria...
nas maõs em concha
onde caberiam
Era dessas pessoas que passam em vão. desapercebida por todos, o que falava não valia nada. Sempre alguem falava por cima. Chegaram a roubar as suas falas muitas vezes. A sensação de que não existia era e é, todavia, ainda.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

nnão consigo transmitir

nem por via aérea,
correio elétrico, eletrônico,
internáutico...
sinais de fumaça
braile e linguagem das mãos
barquinho de papel no lago
garrafa jogada na praia
não consigo me expressar

no escafandro da minha cabeça
rolam mil idéias e palavras
passa o boi passa a boiada
mas não consigo engendrar os versos
nem tampouco os textos:
as palavras dançam,
serpteiam, dão a volta e saem do outro lado...
como as ruas de são paulo -
ah, miseráveis!...

pinto telas, jogo fora,
escrevo papeis que voam pelas janelas
vazia, inerte, dolorida em partes
jogo em lixos estranhos os pedaços
do que seria minha criação
em partos induzidos e cezarianas ocas,
vazia, estranha, liberada à posteridade
entregue à multiplicação
de uma mente estagnada
No envelope branco, escrito numa letra firme estava o seu nome. Beijou o remetente no papel frio.
Subiu as escadas de dois em dois e, esquecida por alguns instantes da premência fisiológica, rasgou com os dentes como pode, e tirou de dentro o livro. Arrancou o plástico bolha que protegia o conteúdo e leu a dedicatória.
Sentiu-se feliz como uma pluma que se desgarra do corpo que a prende e voou feliz para o banheiro.
Depois do banho tomado, a cabeça enrolada na toalha branca, deitou confortavelmente na cama e começou a ler.
O sono pegou-a de surpresa e dormiu abraçada ao primeiro capítulo, mas, ao acordar,
sabia que ele estava ali. Devorou-o.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

As palavras agora doem-lhe. E sem palavras a agonia extremou-se. Macabéa está sentida, aflita e desacordada na demência que foi-se embora com seu pouco juizo. Antes santa, agora é pecadora confessa e renitente.

Mulheres que amam demais

As palavras agora doem-lhe. E sem palavras a agonia extremou-se. Macabéa está sentida, aflita e desacordada na demência que foi-se embora com seu pouco juizo. Antes santa, agora é pecadora confessa e renitente. Ela amava. Era dessas mulheres que amavam demais.

Um dia, quando acordou com aquela cara horrorosa surgindo no espelho como uma assombração, decidiu fazer uma plástica. Foi consultar o cirurgião plástico para saber quanto custava a reforma: oito mil das orelhas para baixo, dezesseis total - isto é, começando do pescoço até em cima, na testa, costurando tudo e juntando como um feixe por detrás da cabeça, como um coque, sabe?

Achou muito caro, mesmo porque não possuia aquela quantia. Aliás, aquela quantia estava muito acima do seu gosto e do seu poder.

Tinha mesmo que enfrentar a feiosidade no espelho, que fazer? Plano B: pintou os cabelos de loiro Marylin, um sombreado em volta dos olhos (azul, o sombreado), comprou umas roupas modernosas, um salto alto e fino, e sentiu-se mais jovem e menos feia.

Derrapou na rua, mas não perdeu a pose. Estava, como diriam os antigos, bonitona!

Macabéa amava acima de si mesma aquela nova aparência.
Deixo os dedos rolarem pelo teclado. Fora de mim, escrevo para algum leitor imaginário. O dedo mindinho está machucado, logo, escrevo com o dedo mindinho machucado.
Não sei o que dói mais: o dedo?
Danem-se! - não, não posso dizer, é muito rude, vai ferir. Então, que vou dizer...melhor calar. Calada, eu não digo nada., e isso resolve tudo. O silêncio é rude, no entanto, não?

Desamanhecer

vou


desamanhecer,

vou me desdormir,

desatrasar a hora,

revirar o travesseiro,

desfazer a cama,

revestir o velho

pijama listrado



(o lustre apagado

na tênue cortina da escuridão)



vou

lânguida, desfazer a maquiagem

coming back para o teu olhar,

para o nosso sonho...para o luar



vou

apagar o sol

com a força e o poder!,

fazer o tempo voltar



vou

recomer a pizza e retomar cerveja

no domingo amadrugado

reviver um ontem apaixonado

no calor da cama recem arrumada



(quero o hoje espreguiçando...)



vou desamanhecer

meu plano

vou desacordar

vou viver de novo

a noite passada

domingo, 27 de junho de 2010

Assim, assim...repetia pacientemente para si mesma, enquanto tentava equilibrar a fatia de salmão em cima de um panqueca minúscula.  Apenas mais um pouco e o martelo bateria o último lance. Era só a questão de apertar o gatilho ou pular do banquinho. Não via a hora de escafeder-se, pegar o beco, desertar...
A prima não aceitou desculpas, então ela precisou comprar um vestido novo, e o jantar estava muito bonito, muito gostoso, muito tudo de bom, mas havia aquela sensação incômoda de deslocamento, precisava ir embora. Mal pode esperar o jantar, e saiu antes da sobremesa.
Todos desconhecidos e fechados para qualquer outra coisa que não fosse eles mesmos. Doutores-Professores, titulados até à tampa, mas ela surpreendeu um deles num gesto quase humano alisando discretamente a parede principal (principal porque era a maior) na esperança de desfazer a dúvida quanto àquilo: se era uma pintura ou tapeçaria, ou até um desenho feito por algum homem das cavernas. Tal a quantidade de antiguidades, alguma coisa ali deveria ter vindo de uma tumba de faraó. Outro, deslizava pelo salão olhando os objetos decorativos como quem nunca tinha visto um vaso chinês ou alguma outra quinquilharia made in China.
- Está procurando o toilette, senhor? Desconfiado, o homem disse não e continuou de olhos baixos passeando por entre as luxuosas poltronas forradas de cetim marroquino (sei lá, estou inventando, ela desconhece a qualidade dos cetins). O segundo prato que resolveu comer consistia de cordeiro acompanhado de polenta, uma invenção dela entre tantas igaurias ali servidas, para deleite do chefe  Monsieur Shalon, encantado com a mistura sagaz que ela, criatura artística, atravessando a quilométrica mesa para compor a mistura inusitada. Mervilhouse, Madame. Inusitada.
Tomou mais uma taça de champanhe com cassis e estava ficando bêbada. Olhou para o degrau de mármore preto (deve ser carrara, não é?), dois, que teria de descer para atravessar o grand salon, despedir-se dos anfitriões, enquanto aquele xale de seda vermelho escorregava por seus ombros incomodamente, o escandoloso broche -  uma borboleta vagabunda, doirada e desdentada em agumas pedras imitando brilhante espetava o colo magro. Estava ridícula, sabia.
As quatro empregadas uniformizadas na porta de entrada estavam lá como estátuas  desde o começo da recepção, aventais pretos e longos por cima de calças pretas e longas.
Escorregou astutamente entre os convivas elegantes, pediu o casaquinho preto e sua bolsa às uniformizadas criaturas e preparou-se para a saída. Mandou chamar a prima discretamente, pediu um dinheiro emprestado para o táxi, e, ao ver as grades marrons do seu prédio ficou tão aliviada, quase feliz,  que resolveu dar cinco reais de gorjeta ao motorista, como recompensa ao serumano que a tinha devolvido ao seu mundo real. Boa noite, graças a Deus, muito obrigada.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Fotografia do planeta Terra:

É azul, azul
Cheio de gente verde,
marrom, amarela e preta.
como não se corrpomer, manter-se limpa no meio da sujeira que impera. que parte difícil. quero-me limpa.
Vaga por ai a procurar belezas. A esperança. De repente, ela pode aparecer num sorriso, no jornal, na banca de revistas, no ônibus, na rua, num pedinte. Um sorriso.
Movida por uma vontade indestrutível, tenta reerguer a ponte entre seu mundo interior e o mundo real. Seu patrimônio íntimo tinha-se diluído no pó de uma memória ardentemente vazia, eternamente desamparada. Lá, aonde nasce o silêncio da perda irreparável, que era a sua memória, ela jaz viva, perambulando entre o futuro e o presente,  inanfiançávelmente só.

Tenho agora que levá-la no braços, acarinhá-la como a uma criança. Tenho que banhá-la, lavar seus cabelos e sustentá-la quando vai ao vaso sanitário.

E tenho que construir essa muralha todo dia: a que nos separa. Desistir de ultrapassar abismos e silêncios,  pedir a mão de um homem para que me sustente. Não me cabe desistir, não me posso a covardia. Obrigo-me a matá-la um pouco todo santo dia. Incubá-la na sua redoma, e deixar-me ir um pouco.

Dessa heroína que foi não lhe resta quase nada, ademais da força, que já é demais.
Tenho que abdicar da frieza que me salva, para poder carregá-la comigo.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Caminhava a passos largos pela rua. A noite terrivelmente fria assustava um pouco os passos, mas nada digno de nota, adorava o frio. Conheceu gente nova, gente interessante, divertiu-se, o que tem sido uma constante desde que começou a frequentar a Galeria. Ali havia gente de todo tipo, todos interessantes. Café, suco e alguns biscoitos estavam postos sobre a mesinha e a gente nem se lembrava de beliscar. Tudo arte. Qual é o teu trabalho, e o teu qual é?
A melodia que tocava ao fundo, nem se ouvia, era tudo arte.
- Adorei aqueles teus quadros. São fantásticos! A questão do vazio, não é?
- Sim...pode ser. Mas não foi nisso que pensei quando fiz as telas.
- Não? - e no que você pensou então?
Um olhar sério, profundo e compenetrado fitou-a por alguns segundos:
- A menor idéia. Não me lembro. Mas está bacana mesmo, gostou?
- Puxa, está super bacana o teu trabalho.
- E o teu qual é mesmo?
Procurando entre a~pequena multidão um espaço por onde esticar o dedo e apontar para o espalhafatoso vermelho/verde que estava na parede dos fundos.
- Lá, ó! aquele com o menino virando pé de guaráná.
- Ah, aquele saindo galhos pelos ouvidos?
- Hum.
- É, né... ... ... tá bacana, né? Assim... ... ...né?
- Não gostou, tá certo. Eu tambem não gostei muito, mas tinha que fazer...temático, não é mesmo? O temático prende, você não acha?
A baforada de cigarro mentolado atravessou sua roupa, primeiro, segundo, atravessou sua alma.
Enquanto andava pela rua fria, ainda rescendia a cigarro (mentolado).

a caminho da ruína

Antes que comece o dia
Olha a sua face
Nos espelhos espantados
De outras faces
(Á sua que se quer mistério)

Sai depressa, faceira
Balançando os quadris
Esgueirando-se da luz
Fugindo do dia que começa

Avessa a outros rostos
A caminho da ruina
Recolhe da ponta dos sapatos
Pedaços de espelhos partidos pelos saltos

E a saia que balança ao vento
Desmantela o esconderijo
Depõe, covarde, sem pudor,
Delineia em lúcidas centelhas
Um cenário incontestável
Que revela os seus segredos

segunda-feira, 21 de junho de 2010

De onde eu andava, o dia parecia se arrastar solene. Sentada eu só via a praça. Os pombos beliscando, os mendigos mendigando, uma música muita alta vinda da enorme tenda de lona montada para as pessoas assistirem ao jogo de futebol, Brasil na Copa 2010. Sentia-me alheia a tudo e todos, possuida de um uma saudade enorme.

Uma saudade indescritível de tudo e de todos, como se eu tivesse morrido. Sim, porque assim deve ser a saudade dos que morrem: por que todos tem vida? Prazer, dor, sentidos...estou tentando ouvir minha própria voz, estou tentando procurar sentidos. Invoco meu Deus mais uma vez e junto as mãos. Estou orando.

No meio da praça, vejo a corda bamba, me equilibro. A criança passa brincando com uma bola (cheiro de casa).

O clima hoje está benevolente com os cidadaõs que há poucos dias estremeciam dentro dos seus casacões pesados, mas continuo trêmula, com o frio acumulado.

A morte me amedronta em um certo sentido, talvez só na sua forma de acontecer. E levanto e vou andando no sentido norte-sul.

A música volteia, desenvolve-se, parece aumentar absurdamente em volume; a noite vai chegando e com ela a necessidade de voltar para casa.
Olho a criança, a bola, os mendigos, os pombos, sinto-me estranha, abduzida.

Melhor que eu volte imediatamente antes que a noite me alcance, e sua escuridão medonha me absorva e me leve de volta ao meu planeta.

cronicazinha

De onde eu andava, o dia parecia se arrastar solene. Eu só via a praça. Os pombos beliscando, os mendigos mendigando, uma música muita alta vinda da enorme tenda de lona montada para as pessoas assistirem o jogo de futebol. Sentia-me alheia a tudo e todos, possuida de um uma saudade enorme.

Uma saudade indescritível de tudo e de todos, como se eu tivesse morrido. Sim, porque assim deve ser a saudade dos que morrem: por que todos tem vida? Prazer, dor, sentidos...estou tentando ouvir minha própria voz, estou tentando procurar sentidos. Invoco meu Deus mais uma vez e junto as mãos. Estou orando. No meio da praça, vejo a corda bamba, me equilibro. A criança passa brincando com uma bola (cheiro de casa).

O clima hoje está benevolente com os cidadaõs que há poucos dias estremeciam dentro dos seus casacões pesados, mas estou tremendo.

A morte me amedronta em um certo sentido: talvez só na sua forma de acontecer.

A música volteia, desenvolve-se, parece aumentar absurdamente em volume; a noite vai chegando e com ela a necessidade de voltar para casa.

Olho a criança, a bola, os mendigos, os pombos, sinto-me estranha, abduzida.

Melhor que eu volte imediatamente antes que a noite me alcance, e sua escuridão medonha me absorva e me leve de volta ao meu planeta.

domingo, 20 de junho de 2010

O Sumiço da Lua

Abro mais
Um pouco
A janela
Afasto a cortina...
Meus ollhos discernem
Na réstea da rua
Em alvoroço,
A lua pequena e linda.

Fitando,
Meus olhos piscam,
(continua a algazarra!..)
Quando os abro,
Um instante de assombro!:
A lua sumiu
Na bruma
Inda
Agora alegre estava.
a sabedoria...
onde está..?
pinga aqui,
cá e lá..
e ninguem alcança
apenas a saudade que lateja
pinga na terra feito estrume

te amava,
a saudade é mais
do que costume
estou hoje como a morte


estou como não vivida

ferida que se abre

morte que sequer morrida

sábado, 19 de junho de 2010

mendiga

Indigência
Precisão
Pauperismo
A necessidade

Pobreza franciscana
Pobre-diaba!

Descamisada
Penúria
Míngua
Falta de recursos.

Pindaíba
Miséria,
Insolvência.

Pobretã,
Miserável mendicante,
Rota, maltrapilha.

Escassez,
Aperto,
Desamparo.
Privação,
Bolsa vazia,
Mendigagem.
Eu e tu -nada sabemos.

O fio que nos une é tão tênue,
Tão desesperançado...

Adivinho tuas mãos - acaricio dedos,
Enquanto sonhas, contas teus segredos.

Entre ceus e estrelas mal dormimos.

O gosto amargo da tua boca - do beijo que não houve,
Ficou na minha, sombra do desejo.

Recolheste-me à solidão infame
Tu, sozinho, recolheste-te ao nada.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Estava preparada. Sabia, desde muito, que era questão de tempo. Alguns urgenciavam a sua morte através de cartas anônimas, abaixo-assinados, mas ela resistia. Agora era a hora. Nada mais retardaria aquele momento crucial.
A forma? Ora, a forma de morrer ela podia escolher. Vários meios estavam à sua disposição: veneno para rato, umas quinze caixas de comprimidos para dormir na mesinha de cabeceira, dentro da gaveta; água sanitária, buscopan, whisky, poderiam fazer uma mistura fatal e ela deglutiria  a morte. Podia se atirar do Viaduto do Chá, podia... tanta coisa. É tão fácil morrer. Ela já tinha morrido algumas vezes, tinha experiência no assunto.
A decisão, entretanto, tinha que partir dela, antes não fosse (alem do trabalhão que dá se morrer, ainda teria que se matar).
Tinha pensado no caminhão de lixo. Quando ele passasse com aquele cheiro fétido e os homens de macacões amarelos recolhendo os sacos de lixo, nem perceberiam um corpo tão magro dentro do saco marrom. Poderiam até pensar que era um cachorro morto. E assim ela seria indiscutivelmente desaparecida do mapa, moída, triturada em seu corpo desamado.
E antes que subam a musa, ela decidiu. Sentiu uma dorzinha no peito apertando, talvez já fosse saudades da vida, mas estava decidida. Não queria ser sentimental naquele momento.
Friamente, apertando  o casaquinho preto contra o peito, num gesto que há muito abrigava seus momentos mais terriveis, decisivos -  Macabéa foi.

o tempo inteiro

o tempo e eu,
ironia.
você e o tempo,
fantasia.
eu e você,
meio-tempo.
nós no tempo,
filosofia.

o tempo meu
em mim
e o tempo que
por mim
passa,
passa, tempo..!

tempo que me tenta,
tempo que me arrebenta.

peço ao tempo:
dá um tempo..!

(me descansa em paz)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Não há sequências, as palavras são simples, o enredo quase inexistente naquela fase da vida. Os desejos invadidos, pressupostos, indecisos ainda se anunciam como gritos de vanguarda. Outrora ardente, Macabéa definhava nas penumbras de uma solidão infame. Mas o sol brilhava, ela sabia. Foi quando o telefone tocou. Uma esperança, um amigo. Um chope, uma saída a um barzinho...quem sabe?

dianoite...noitedia

ainda nem o sol se abriu
e já me anoiteço

se nem me anoiteço
já me tenho amanhecida,
e se me tenho amanhecida

... que fazer?

se o dia me amanhece
e ainda estou anoitecida?

com esse dia que anoitece
e ainda estou entardecida?

entardecida

ainda nem o sol se abriu
e já me anoiteço
(que fazer..!)

se nem me anoiteço
já me tenho amanhecida,
e se me tenho amanhecida
me enlouqueço,

(que fazer?..)
se o dia me amanhece
e ainda estou adormecida...

que fazer
com esse dia que anoitece
antes de me ter entardecida...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

arroz queimado

Esqueceu-se de vigiar o arroz. Safado, queimou.
eu escrevo
tu escreves,
ele, não escreve
A noite não tinha lua. Nem céu, a noite tinha. Um escuro medonho e as sombras das traições aperreavam seus passos solitários pela rua escura.  Andava como um bêbado, tropeçando nas esgueiras calçadas, entre os muros, entre as facas apontadas; era a rua tão deserta, tão gelada...
As mãos dentro do casaco, o cenho fechado, sombrio, amedrontado. E se viesse a lâmina da faca arrepiar-lhe as carnes, soltando-lhe as entranhas abaixo da calçada? Ou algum maníaco depravado  lhe arriasse as calças e usurpasse sua intimidade na obscenidade de um estupro?
Sentia um medo...lembrou-se do pesadelo da noite anterior. Tinha as mãos manchadas de tinta fresca e preocupada em não sujar os bolsos do casaco, mantinha-as bem cerradas, os pulsos apertados. Seus ossos doiam de fome e frio. Ansiava por chegar em casa, desesperada da cidade grande que apavorava. Precisava correr, mas as pernas não obedeciam. Duras, tensas,apenas caminhavam um passo lerdo, quem visse não diria seu interior tão assombrado.
M.A. era a pessoa mais solitária do mundo, com certeza. Não era uma solidão visível, era uma ferida oculta, incalculável. Seu ninho invisível. Seu pai dizia, a mãe nunca disse, não se atreveria, pois sabia que a amava, mas ela sabia que não prestava para nada. Nem para correr se viesse o ladrão em seu encalço.
A solidão era seu único remédio amargo. Hoje era dia de tomar farta dosagem.
Tenso espaço
Me retraio lenta
Denso extrato
ao relento
Dança estranha
Num compasso falso
Trança estranha
Fez o meu cabelo crespo
De um tempo em que as cores me gostavam.
Foi. Era infantil e doce...eu não, eu não era.
estava ausente
e se desembaraçava aos poucos de clarice
fora sua musa, seu destino
"aventurra" psicodélica...
Transferindo tudo para a minha conta.
tantos versos mal feridos, mal amados, magoados...
conta sem desconto, vou engraxar sapato

terça-feira, 15 de junho de 2010

Estava regressando do seu serviço de tomar conta de cães de patricinhas quando elas viajam. Dessa vez, a "patroa" não deixou água potável e papel higiênico. Teve que comprar do próprio bolso, o que foi um prejuízo razoável, tendo em vista que o ganho é irrisório. Foram quatro dias e quatro noites. Mas o bichinho não deu trabalho, estava calmo e só exigia que Macabéa ficasse o tempo todo ao seu lado, não podia perdê-la de vista. Era viciado em olhar pessoas.
Quando a mocinha voltou das praias que ficam distantes, Macabéa arrumou as trouxas, pediu uma sacola chique emprestada, para não ter que atravessar o shopping Higienópolis com aquele saco plástico nas mãos.
"Sibe..." era o nome da pomposa sacola. Colocou dentro a metade da garrafa de vinho que tinha sobrado da véspera - comprado com seu dinheiro, claro, não tomaria o vinho da mocinha, mesmo por que quem não tem água, não tem vinho, o pijama adorado, suas tranqueiras íntimas e pessoais.
Lá, no shopping, decidiu dar-se ao luxo de tomar um capuccino e uma água com gás, limão e gelo. Eu mereço, pensou. Era uma questão de autoestima. So imaginava, porem, quanto custaria aquele luxo. descabido. Muito descabido. Ainda tinha o cigarro mentolado para comprar. Tomou devagar para aproveitar cada gole daquelas delícias.
A seu lado, uma avó. Oh my God, quer coisa mais...mais descabelada (me faltou um termo apropriado - perdoem-me vovós) do que avó? Essa encontrou outra, e as duas ficaram falando sobre seus netinhos, mostrando fotinhas, uma mais linda que a outra, as netinhas.
Esse é lindo!
Não, é essa. É uma mulherzinha.
Ah!
E as crianças tinham essa mania que ela não compreendia: gostavam de olhar para ela, esconder os rostinhos, fazer caretinhas, ficar sorrindo, queriam às vezes até tocá-la. Era um mistério que Macabéa não entende até hoje. As crianças amavam-na. Será que ela tem cara de vozinha?
Com sua sacola de grife, seguiu ela Higienópolis abaixo.
Sabia que um grande futuro a esperava. Não tinha nascido para nada. Desde pequena, o futuro sussurrava-lhe grandiloquências.
O capuccino arranhavá-lhe a garganta como pastilha antiácida engolida a seco.
Estava morrendo e era vendável. O pacote inteiro: pelo, corpo, olhos, dores, antigos amores, tudo por um preço razoavelmente barato.
Se pudesse escolher entre caminhar pelo meio dos prédios amarronzados observando a vida ou morrer,
escolheria morrer.
Tropeçou numa fissura da calçada e caiu de cara no chão. Bem feito! ficava pensando bobagens. O porteiro do prédio da calçada remendada foi solícito e quis saber se ela estava bem, não tinha quebrado algum osso.
- Está tudo bem, levantou-se com os restos da dignidade dentro da bolsa, gracias!
Dali a dois dias saberia que não.
Amara aquele homem naquele instante. Amara qualquer homem que fora delicado com ela. Na verdade, naquela hora, amaria qualquer homem que a recolhesse das lajotas.

flores de palavras

queres palavras fortes?
pois as tenho aqui dentro deste peito furioso
onde elas brotam vindo do esgoto
que as engoliu.

tenho em mim,
dentro dos meus prantos
recônditos não cantados
mananciais e abundantes fortalezas
inéditas, inusitadas, fortes e malvadas.

sou como tu eres.
e se assim quiseres,
vomitá-las-ei...
e do inferno que gerarem
farei canteiros,
beijos, flores de palavras.

sábado, 12 de junho de 2010

À Boba de Clarice (declaração de amor - boba, claro!)

fui te buscar, querida. fui ao cúmulo do universo.
sei das intempéries e do fausto pobre que te cerca...
e do quanto estás só...
busquei-te nas ruas, minhocas e avenidas.
entanto,  protegida pelo sonho de ser nada,
vagavas. eu buscava em cada canto, em cada esquina.
busquei-te como quem busca uma pureza antiga
uma pureza antiga dum verso sem rima.
como quem cata piolhos na ternura de uma crina.
busquei-te e te vi nas incertezas, malas, aviões, e
navios sem esquina. praças, ruas, dormitórios crus,
sem abajours. sem chuveiros de água colorida.

encontrei-te dormida sobre colchoes na calçada.

porque te amo, te busquei insone, em noites mal dormidas,
macabéa, mauricéia, dulcinéia, pessoa sem sentido.

das lágrimas que teus olhos caem fiz-te um vestido branco.
sem nós, sem seda, sem nódoas de tecido.
apenas um vestido travestido da miséria humana.
eras..foste..existes...és! a minha, sempre
eterna, etérea, simples macabéa triste.
transmudas seres...existes... todavia.

(em teu corpo branco outrora residia
um negro ser que te vestia...
á, como te quero antes do passado..
antes do que te vestia, dessa veste branca
dessa veste infame...á, como eu te queria!)

sonhei teus sonhos mas era eu quem me dormia...
era eu...e tu só resfolegavas
as babas do cigarro, catarro de pulmões
que já não vivem...macabéa triste..

na mochila do teu rosto triste
um passado...macabéa que já não existe
fomos, eu para o lado da ventura
tu, alegre sem saber-se - quem sabe um dia? -
encontramo-nos: eu, pobre, tu, do outro lado da avenida.
cercando-nos, à toa o ritmo cego e fútil dessa vida.
embora lúcidas e sobrevividas, sobrevivem tolas, mansas e caídas.
como quem ri, e ri-se à toa, tola, tola... sabe-se tão mal querida.
- ri, amada, ri - que o mundo não passa de uma vala
onde o ser desmaia, a morte desanca a pele louçã dos que - ó!
pensam-se alegres e desmaiam-se, na vala comum
dos tristes! - morte, no íntimo vulgar insulto.
macabéa, triste, digna, hirsuta,
passa com desdem, ora vai, ora vem...
e atravessa o tempo - o tempo...que não tem vivido!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Por entre as cortinas de plástico duro que cercavam o pequeno restaruante para proteger da chuva e do frio,  ela via as pessoas passando e observava cada uma, como era a sua maneira de olhar. Para cada pessoa um olhar pessoal, embora desconhecido. Atenta, observava as faces compungidas, outras alegres, discussões, conversas ao passo do andar. Macabéa Alice praticamente se havia especializado em observar as pessoas. Não tinha a menor noção no que iria dar todo aquele processo, e, embora muitas vezes não visse o que realmente olhava, a pobre ficava lá, sentada, olhando os transeuntes.
O dono do restaurante ficou seu amigo. Pendurava a conta às vezes.
Recebu noticias do lado de lá. O tempo estava bom, embora esfriasse um pouco às vezes, nessa época.
Abriu o pequeno livro que tinha recebido pelo correio. Emocionou-se com as palavras da dedicatória.
Sei que pode parecer absurdo, mas não para quem escreve essa história, mas Macabéa Alice Regina ficou lendo as palavras, na letra firme e máscula, e não acreditava.
Ficou muito tempo a ler o livro que, embora de histórias curtas, era recheado de observaçoes porfundas e interessante sobre o comportamenteo humano.. estava na sua área.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

desabafo transversado


sentimento humano
que me atravessa
sentimento insano
louco e,
por que não dizer...
sentimento
às avessas?/

torpe,
inútil,
vã alegoria
de um passado
triste
volta que não foi
o ido]
tudo -
absolutamente
sem sentido

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Todo o tempo quanto houver pra mim é pouco* (*plágio). Diante de tantos planos, o tempo oprime Macabéa. Do amanhecer até o raiar do dia, ocupa-se em ouvir estrelas, observar o movimento das águas,  em observar o perigo que ronda a aldeia, flertando inconsequentemente com os soldados que passavam de navio vindo da américa. Isso, em 1945. As densas trevas da guerra não anuviavam as suas batalhas interiores.

Já adivinhava, sortidas vezes em agonia convulsiva, os amanhãs que se deslumbrariam adiante, diante do diário em branco.

Deixando para trás a vida, desvencilhando-se do desnecessário, desapegando-se dos supérfluos (cílios postiços, bandeiras da pátria amada, e cintos de castidade), naquele tempo Macabéa fez parte do grupo do construiu as pirâmides, foi uma experiência e tanto. Apesar de exausta, derrubou o muro de berlim e ainda deu uma mãozinha de tinta nas faixas pretas da calçada de copacabana.

Ultimamente está ocupada com um grande invento de autoria de um amigo seu - a construção do flyskate,
um locomotor que vai revolucionar o mundo dos transportes.

Vislumbra do seu pedaço de janela os apartamentos com cortinas, e uns seres etéreos limpando vidros e estendendo roupas nos varais. Era as empregadas domésticas e as donasdecasa.

Depois que desenhou alguns bizões nas cavernas de odorico, visitou o rei salomão e levou de presente um cd pirata do cleyto y cledir (o homem era louco por música gaucha) e ainda, um celular todo incrustado de macasitas. Assim era Macabéa naquele tempo, no Egito.

Tomava banho no açude no Orós toda tardinha, cantando com o Wagner (as velas do mucuripe, ai que saudade...)e junto com o rodrigo faro, está envolvida nos últimos arreglos para o programa ídolos na tv.

"Por trás de um homem de sucesso, sempre tem uma mulher bonita", assim dizia sua mãe. Desde então, perdeu as esperanças. Era muito feia, a pobre. O único adorno de que se valia para encobrir seus seios enormes e disformes era um casaquinho preto que ganhou do maotsé... tung!. Embromava.

Quando esteve no harem do rei assuero, quebrou-se-lhe o espelho. Foi quando virou Alice. O pais? Oras, o pais das macabéas.

O sórdido tempo roi-lhe agora as unhas, indiferente, as pernas fraquejam nas sete léguas que corre diariamente, always com seu diário nas mãos.

Sorry, Maca, o tempo é cruel.
os meus olhos velam
um silencio aterrorizante
os meus sonhos? - dormem,
sabem-se doentes.

não me acordem
falácias inocentes
de um destino breve

não me acordem
versos indigestos
sonhos indecentes

data venia, vãs palavras
salve-se quem possa
eu me quero morta!

Recebo coisas que não entendo. Macabéa entende por mim.Macabéa decifra textos, línguas estranhas e fala as coisas que não quero dizer. Ela, minha amiga número um, declara as fortalezas que contem suas forças e definha as dobras dos lençõis quando os quero limpos.




Macabéa não se aflige, nem tampouco deixa o copo transbordar. Tem juizo. E odeia. Como Deus odeia coisas tambem, e conhece as fases do Juizo Final. É fanática.pende sempre para o lado errado - o do coração. Macabéa não fica triste como normalmente as pessoas o fazem. Macabéa é livre para dizer o que quer e pensar o que pensa. Livre par adescansar num copo de cerveja e não aceitar coisas.



É trivial como qualquer mulher, mas não é igual Não é feminista, não é machista, não é gay, nem hermafrodita. Não tem dias das ma~es, nem dos pais, nem dos namorados. mas nem por isso a aflição é a sua sina. Macabéa é feliz. Zombe quem queira e deboche quem quiser. Macabéa ama e tem coragem de dizer ei, você´api, amo você! E até mais!

Macabéa dorme só, acorda só e toma café na padaria. Pronto, é só.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Não estou fazendo graça, não - dizendo piadas.

Inventei uma dança para dançar minha vida, e as pessoas acham graça.

Que coisa!

Estou apenas tentando viver na balança, entre fatos e lugares que respiram o mesmo ar.

Apenas inventando um diário, umas rotinas de mal feitos a fazer.

Não sei de que riem..de mim? Não sou engraçada. Patética tentativa, talvez possa me assemelhar.

Deixem-me em paz, não julgem, não acenem, nem me trapaceiem.

Deixem os meus azedumes, os meus queixumes, minhas baixarias, micos e adjacências nas portas do inferno que escolhi.
Deitem-me à noite nos seus pensamentos e me esqueçam.
Aqueço os meus sonhos no meu pobre cobertor, e deixo-me ir para as delícias.
Vou dormir os dias que me restam.
Não estou fazendo graça, não - dizendo piadas.
Inventei uma dança para dançar minha vida, e as pessoas acham graça.
Que coisa!
Estou apenas tentando viver na balança, entre fatos e lugares que respiram o mesmo ar.
Apenas inventando um diário, umas rotinas de mal feitos a fazer.
Não sei de que riem, de mim? Não sou engraçada. Patética tentativa, talvez possa me assemelhar.
Deixem-me em paz, não julgem, não acenem, nem me trapaceiem.
Deixem os meus azedumes, os meus queixumes, minhas baixairas, micos e adjacências nas portas do inferno que escolhi.
Deitem-me à noite nos seus pensamentos e me esqueçam.
Aqueço os meus sonhos no meu pobre cobertor, e deixo-me ir para as delícias.
Vou dormir os dias que me restam.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O que você faz, menina, vive do quê? Perguntou o homem meio barrigudo..
Eu escrevo.
Ah, escreve. O que?
O que o que? - perguntou ela, desconfiada.
Uma vez disseram que ela sofre da síndrome da conspiração, então... estava sempre na defensiva. Via binóculos observando-a de cima dos prédios, por trás das cortinas, em meio às transparências das fumaças de cigarro, até chegou ao ridículo de fumar escondida de si mesma, Mas isso é outra história.
Meu diário, disse com ar arrogante e o nariz arrebitado.
Vou escrever um livro.
O homem olhou-a de alto a baixo, o que, certamente não se tratava de um passeio muito longo do olhar em vista da pequeno espaço que o corpo da moça ocupava,  e resmungou um "ah!" desqualificado na escala expressão.
Todos, absolutamente maioria, entendiam quando ela respondia assim. "Meu diário!" - com orgulho e a petulância comum aos que se querem fazer escritores, Mas aquele homem, não. Aquele homem estava mentindo.
Continou a escrever no caderninho.
Depois que tinha escrito as aventuras diárias, de como tinha dado comida aos pombinhos na frente da igreja, de como tinha conversado com a mulher sentada na praça que tinha-lhe contado que era organizadora de eventos, que tinha um filho que trabalhava com ela, que tinha 64 anos, que aos domingos ia montar stands no shoppinga Aricanduva, que sentia dores na perna, por isso andava com aquela bengala. Chamava-se Ester e ficou grande amiga sua.
Em seguida, guardou o material na mocilha .
Como era domingo, as padarias do centro estavam fechadas. A próxima passeata deveria ser a favor de abrir as coisas no centro da cidade no domingo, pensou M. Alice, do fundo de suas masmorrices interiores.
"A coisa que os velhos mais gostam é comer".
Ficou escutando a conversa de uns senhores ricos, sentados no restaurante mais ou menos chic.
Espichando os ouvidos para escutar melhor, Macabéa ouviu-os descrevendo os banquetes servidos nos navios em cruzeiros poraíafora (alguns gostam muito de Fernando de Noronha - não sabia porque - ela mesma achava a ilha muito chatinha), nas poltronas da primeira classe, no luxo das suas cabines particulares,
e, pasmem! até nos seus jatinhos particulares.
Uma vez, mesmo, uma prima convidou-a para comer num restaurante, e ela por modéstia, decência e juizo, pediu o que julgava ser o prato mais baratinho da casa. Miseros centos e sessenta e três reais. Picadinho de filé, arrozinho num montinho, farofinha e uma cumbiquinha com um feijãozinho. A iguaria custava cento e sessenta e três reais. Para compensar, no piano um homem belo tocava tudo quanto é música boa, e ainda tinha o vinho absurdamente francês, sec.
Ela sentiu pena. Não dos homens que gostam de comer, não da prima rica, não dela mesma que faria o mesmo picadinho na sua cozinha por uns míseros vinte reais, para três ou mais pessoas, nem dela tampouco. De um modo geral era a pena que ela sentia.
Das pessoas que sofrem da tal da síndrome da conspiração.