quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Não se sabe o que aconteceu naquele período que antecedeu à morte. Talvez dores ou outras agonias intrínsecas, talvez nada mais do que um abalo no coração. O cérebro já estava morto. Não havia mais sinais vitais. Era um corpo sem pensamentos, sem contatos com a consciência. Ela  só tinha que ficar apertando aquela espécie de fole para que o ar circulasse e mantivesse vivos os pulmões. Tinha que seguir um rtimo de forma a garantir essa circulação para manter o pai vivo.

No entanto, de repente, num súbito lance de desistência, ela foi afrouxando a mão, diminuindo o ritmo do ar, até que sabia que o ar não seria suficiente para provocar o falso movimento que levava o ar para dentro do corpo morto.

Trocou com o médico um olhar misto de cumplicidade e espanto, e que a perdoe Deus, parou de apertar aquele objeto parecido com um desentupidor de pia.

Naquela hora, o último sopro de vida artificial que sustinha um pai estancou. Agora uma vaga lembrança, uma saudade doída e sentimentos confusos - "você matou seu pai", soava dia e noite aos seus ouvidos, como uma sentença vinda de sons divinos, do Dador da Vida.

Ela não tinha esse direito. Agora só lhe restava morrer tambem, só esperava a hora certa, mas sabia tambem que essa hora não haveria, que ela tambem teria que decidir com sabedoria a hora de parar de respirar e de viver essa vida artificial de culpa.

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