sábado, 3 de julho de 2010

Roubaram a minha fala

Roubaram a minha fala. Todas as palavras que eu ia dizer, já foram ditas. E repetidas.
Por isso me calo, recolho-me à minha insignificância poética. Mas não largo o cobertor quadriculado que me enrola. Sou poeta com frio. Não sobrou nada da bebida ardente que me aquecia. Pobre e só, resta aquecer-me os dedos no teclado macio, dedilhado com a ternura dos solitários de sábado à noite, e sonhar que sou poeta -  talvez uma desculpa para esse abandono a que respondo com escárnio: e daí? Não será o sábado apenas outro dia, igual aos outros..?

Porque não vejo nada na rua, vejo apenas um muro enorme erguido entre mim e a alegria dos namorados, os beijos trocados nas mesas de bar, os sons erguidos para alem dos meus ouvidos, as conversas loucas, divertidas, dos que se encontram e se aconchegam nessas noites frias? Só por isso? Ou haverá mais um motivo escondido
por debaixo desse cobertor - um corpo frio, talvez desejando outro corpo no mesmo esconderijo (será)?

Mas sábado à noite não é hora de responder perguntas tão difíceis. Melhor não perguntar ao corpo, ele é malcriado, cheio de vontades.

Outros solitários me respondem em versos tão calados, tão pungentes. Sinto assim que não estou sozinha. Estou nesse mundo virtual onde passa-se o tempo enorme, tão vazio.

- Um chá? Pergunto-me e me respondo: não, obrigada! esse negócio de tomar chá enrolada num cobertor quadriculado parece filme, e não quero virar artista de filme de terror.

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