quarta-feira, 14 de julho de 2010

bOA-TARDE, PESSOA

Ele é um motorista de táxi. Trabalha dez, doze horas por dia. Mora a quarenta quilômetros do seu ponto, de onde parte todos os dias santos e profanos e trabalha até a noite seguinte. Não tem fim de semana, nem feriado, férias, folga. Ela, uma artista fracassada em busca de refazer um passado. Eles se conheceram durante uma corrida de táxi. Chovia forte, ela fez o sinal e ele parou, e, no percurso de meia hora, trocaram todas as confidências - impossível! - que um casal de velhos costuma trocar. Foi uma conversa intensa sobre medos, casamento, filhos, esperança e solidão.


Ele disse:

- Vou te esperar aqui.

- Não, por favor, vou demorar muito...

- Não importa vou te esperar aqui.

A fonte, raiz, maiz, a gênese daquela história foi essa aí acima descrita.

Ele esperou, ela voltou e a conversa foi retomada com a mesma intensidade. Um encontro de solidões fortemente armado pelo "destino", ou pelo "acaso".

Ela disse
:

- Você não pode pensar assim, porque vai acabar tomando mais um decisão errada sobre a forma de vencer a solidão. Como outro relacionamento frustrado.

Intimidada pelas palavras que vulgarmente se chamam "cantada", veio o medo, a descrença, as esperanças incubadas num coração medroso, o desesperança de não saber mais amar, medo de ser traída, e - pasmem, de ser agredida, vítima de um bandido, de um psicopata (ela vê muito na tv). A mulher ja desconhece o corredor que leva ao pátio onde dormem os amantes, não compreende por que os homens não desistem do amor quando elas, por sua vez, pôem-no de lado, como numa prateleira, encostado esperando calmamente a vez que talvez não venha nunca mais. "Por opção", elas dizem. Pelo menos ela disse.
Ele prometeu levá-la ao Largo do Batata, ao shopping Aricanduva, ao Museu do Ipiranga, ao Bixiga, ao Bar do Damião comer baião-de-dois, e que ela não pagaria mais a corrida de táxi.o  medo bateu desordenadamente dentro do coração dela, miudo, cheio de frio. O que ele terá pensado, estaria (ela) à venda, 18:47 (26 minutos atrás) excluir olga

O que ele terá pensado, estaria (ela) à venda, já teria um preço marcado na sua testa?

Ou seria mesmo a solidão desesperada que levou-o a confessar com uns olhos molhados, tão impulsivamente sobre uma atração fatal, irresistível de que estava tomado?

Seria verdade?

A mulher disse não e foi embora, triste, golpeada pela chuva fria e fina que ensopava seu rosto junto com as lágrimas.

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