sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Não é mentira que tenho um corpo inflável.


E nem é mentira que tenho um papagaio de plástico.

Não é mentira que preciso, como uma criança de um bichinho de pelúcia.

Nem tampouco é mentira que o corpo do avesso é melhor do que o de direito.

Nem mentiras são as verdades que exponho com duplos sentidos, e me falo.

Nunca é mentira quando falo de Elisa, de Teresa, Macabéa ou Doralice.

Tenho duplos, e tenho medos, e tenho dor de barriga, e tenho amigos, fome e sede.



É tudo verdade quando se trata de uma mentira bem feita.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

À Boba de Clarice

fui te buscar, querida. fui ao cúmulo do universo.

sei das intempéries e do fausto pobre que te cerca...

e do quanto estás só...

busquei-te nas ruas, minhocas e avenidas.

entanto, protegida pelo sonho de ser nada,

vagavas. eu buscava em cada canto, em cada esquina.

busquei-te como quem busca uma pureza antiga

uma pureza antiga dum verso sem rima.

como quem cata piolhos na ternura de uma crina.

busquei-te e te vi nas incertezas, malas, aviões, e

navios sem esquina. praças, ruas, dormitórios crus,

sem abajours. sem chuveiros de água colorida.



encontrei-te dormida sobre colchoes na calçada.



porque te amo, te busquei insone, em noites mal dormidas,

macabéa, mauricéia, dulcinéia, pessoa sem sentido.



das lágrimas que teus olhos caem fiz-te um vestido branco.

sem nós, sem seda, sem nódoas de tecido.

apenas um vestido travestido da miséria humana.

eras..foste..existes...és! a minha, sempre

eterna, etérea, simples macabéa triste.

transmudas seres...existes... todavia. 

em teu corpo branco outrora residia

um negro ser que te vestia...

á, como te quero antes do passado..

antes do que te vestia, dessa veste branca

dessa veste infame...á, como eu te queria!)



sonhei teus sonhos mas era eu quem me dormia...

era eu...e tu só resfolegavas

as babas do cigarro, catarro de pulmões

que já não vivem...macabéa triste..



na mochila do teu rosto triste

um passado...macabéa que já não existe

fomos, eu para o lado da ventura

tu, alegre sem saber-se - quem sabe um dia,

encontramo-nos?: eu, pobre, tu, do outro lado da avenida.

cercando-nos, à toa o ritmo cego e fútil dessa vida.

embora lúcidas e sobrevividas, sobrevivem tolas, mansas e caídas.

como quem ri, e ri-se à toa, tola, tola... sabe-se tão mal querida.



- ri, amada, ri - que o mundo não passa de uma vala

onde o ser desmaia, a morte desanca a pele louçã dos que - ó!

pensam-se alegres e desmaiam-se na vala comum

dos tristes! - morte, um íntimo vulgar insulto.

macabéa, triste, digna, hirsuta,

passa com desdem, ora vai, ora vem...

e atravessa o tempo - o tempo...que não tem vivido!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Insípida - 06.11.2009 (Véio China disse eu insípida...rsrs)

Acabo de chegar de um bar virtual. Lá eles me chamaram de insípida. Achei interessante, porque eu pensei que não tinha nada de insípida. Mas, tudo bem. Às vezes essa minha lengalenga pode ser mesmo um saco! Nada demais. Nada demenos. Talvez a escassez de palavrões, ou a a exagerada exposição do eu acabem tornando a criatura insípida mesmo. Pura repetição, conversa de divã de psicanalista (ei, por falar nisso, uma vez peguei o meu dormindo: dor-min-do!)...Por pura insipidez, contei-lhes a estória da Lindalva. Agora falta contar a da Suley, e tem outra, que não lembro agora. Todas tem um nome e são verdadeiras insipências. A vida, né, que fazer, às vezes é mesmo INSÍPIDA.
Antes que eu fora gente, ainda no útero, tive um sonho. Sei qe ussi pe syrrealm* nas nunca é mentira. Desde que eu assuma.


*que isso pode ser surreal

Da inspiração

Eu que preciso tanto de inspiração...


que busco no cheiro do ar e no vento da terra

Eu, que me escondo nos varais e me estendo

inteira em manto triste...



Eu, que me quedo pensativa,

divina como deusa ardente

apenas me ausentando

da tua partida.

falar com as paredes

- Esqueça as promessas, esqueça os beijos, esqueça as mãos que se arrastavam silenciosamente pelas curvas, esqueça tudo. Me esqueça!
Digo às paredes mornas do calor da tarde, que parecem escutar entre a solidão que se arrasta no meio  delas.
Tornei-me amiga das paredes. botei-lhes nomes e endereços: parede da sala, da
cozinha..
O  analista me perguntou (no tempo em que eu era pirada): você fala sozinha? Pior, doutor, não só falo como respondo.
Falo com as paredes, quem não fala...?

grande feito

Como quem vai realizar um grande feito, sento no banquinho duro e começo a longa jornada. De manhã à noite, esvaziando as palavras no buraco negro da tela em branco. Depois, vem a sensação de vazio. Penso que acabou tudo, mas ainda tem palavras. Elas dançam intermitentes no meu pensamento levando embora as cores que eram antes das palavras. Já não sou mais, agora sou ex definitvamente. Busco a vida tateando esse teclado e ouço o som de tlec-tlec-tlec até que me sinto tonta, enjoada e parto para outras palavras, agora a leitura.


De fato, me enojo tambem. Reluto diante de uma escapadela ao boteco. Preciso ser um pouco animal e sair pelas ruas. O som das pessoas, porem, raramente - melhor dizendo, tambem me antoja.

Reclusa, cumprindo pena autoimposta (já dito antes) de solidão sem direito a condicional, porque nas poucas vezes em que me dei esse direito, me dei mal.

Fico fazendo o jogo das palavras e me perco, distinta do resto da humanidade; resta-me um banquinho duro e a falta de água. Tenho que ir ao boteco. Minha sede é eterna, aspiro a morte"



(A outra morte de outra Maca chora, Valéria...rs por mim....!)