segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mulheres que amam demais

As palavras agora doem-lhe. E sem palavras a agonia extremou-se. Macabéa está sentida, aflita e desacordada na demência que foi-se embora com seu pouco juizo. Antes santa, agora é pecadora confessa e renitente. Ela amava. Era dessas mulheres que amavam demais.

Um dia, quando acordou com aquela cara horrorosa surgindo no espelho como uma assombração, decidiu fazer uma plástica. Foi consultar o cirurgião plástico para saber quanto custava a reforma: oito mil das orelhas para baixo, dezesseis total - isto é, começando do pescoço até em cima, na testa, costurando tudo e juntando como um feixe por detrás da cabeça, como um coque, sabe?

Achou muito caro, mesmo porque não possuia aquela quantia. Aliás, aquela quantia estava muito acima do seu gosto e do seu poder.

Tinha mesmo que enfrentar a feiosidade no espelho, que fazer? Plano B: pintou os cabelos de loiro Marylin, um sombreado em volta dos olhos (azul, o sombreado), comprou umas roupas modernosas, um salto alto e fino, e sentiu-se mais jovem e menos feia.

Derrapou na rua, mas não perdeu a pose. Estava, como diriam os antigos, bonitona!

Macabéa amava acima de si mesma aquela nova aparência.

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