As palavras agora doem-lhe. E sem palavras a agonia extremou-se. Macabéa está sentida, aflita e desacordada na demência que foi-se embora com seu pouco juizo. Antes santa, agora é pecadora confessa e renitente. Ela amava. Era dessas mulheres que amavam demais.
Um dia, quando acordou com aquela cara horrorosa surgindo no espelho como uma assombração, decidiu fazer uma plástica. Foi consultar o cirurgião plástico para saber quanto custava a reforma: oito mil das orelhas para baixo, dezesseis total - isto é, começando do pescoço até em cima, na testa, costurando tudo e juntando como um feixe por detrás da cabeça, como um coque, sabe?
Achou muito caro, mesmo porque não possuia aquela quantia. Aliás, aquela quantia estava muito acima do seu gosto e do seu poder.
Tinha mesmo que enfrentar a feiosidade no espelho, que fazer? Plano B: pintou os cabelos de loiro Marylin, um sombreado em volta dos olhos (azul, o sombreado), comprou umas roupas modernosas, um salto alto e fino, e sentiu-se mais jovem e menos feia.
Derrapou na rua, mas não perdeu a pose. Estava, como diriam os antigos, bonitona!
Macabéa amava acima de si mesma aquela nova aparência.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário