segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Vociferas inútil. Nada de novo debaixo do sol, repito. Em algum lugar discutem o modernismo, todavia.

Um brinde aos presentes/A Partida

Chorou amigos,
amores...parentes...
e partiu...
levando simplesmente...
coisas!

Caixas embaladas...
malas... etiquetas...
pontes...rios...
cruzando os destroços...

- Coisas!..

Ergamos um brinde:
aos presentes!
cheios de vergonhas...
parentes...amores...
pontes cruzando os destroços...
cheios de passados,

Ave!

domingo, 29 de novembro de 2009

Até agora, nada.
Com ressalvas de partir o coração desculpou-se by email e me pediu perdão. "Quis ofender não"... Era apenas a tentativa de trair mais uma vez; e antes que o sol se pusesse na estrada, ele se foi. Ficou de voltar no outro dia...não voltou. Pergunto ao vizinho: continuo esperando?
o sol de meio-dia responde com deboche, me queimando. É câncer.
Inútil espera, pois sei que quando a espera é longa o cansaço avança e ganha a batalha. Na queda de braço, o cansaço ganha. Por isso me despeço e desisto. Isso, ajuntado ao tédio do domingo me deixou sem fala: herdamos, eu e as meninas, uma série de domingos insosos, dos quais nao sei o pior. Vieram em caixas, embrulhados para presente, e abrimos contentes pensando em coisas boas como churrascos, cerveja, cachaça, música e alegria. Nada...apenas uns domingos de temperatura elevada como sempre.
Não vieram os namorados nem as moscas indiferentes para beliscar as carnes. O som vinha do vizinho, da cobertura. Ficamos a sós, e eu, principalmente, que não sou dada a solidões, escancarei a voz e gritei as palavras da música que tocava.Depois tive que pedir perdão tambem. Esse domingo está sabático. Tantos perdões...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ok. Mais um dia terminando. Fazer as malas. Eu odiaria. Fiz compras no mercado. Comprei coisas de comer, de limpar, de ferver, de cozinhar, de usar. Durante uma semana terei o que comer e beber. Chega de vinho barato - a la chase! Comida japonesa, lasanha congelada, sardinhas enlatadas e muito macarrão a bolonhesa. Plano de vida.
Não, me venha falar "ah que delícia", você não comeu nada disso!

Poema Elisa Betano

Desfaço do tempo
o tempo enganado
não passa de heroi
herói atrasado


Desfaço da lua
que brilha no céu
não passa de estrela
que mata o passado

Desfaço do homem
que me enganou
e da mulher mui bonita
que meu homem levou

Desfaço do prato
do pão de cada dia
e cuspo na mesa
que o diabo aprontou

Desfaço da noite
e suas insônias
enquanto os gritos
embalam meus sonhos

Desfaço a feiura
com traços e formas
que faço no espelho
que aos poucos deforma

Desfaço do vento
que assanha cabelos
e levanta as saias, e
mostra as vergonhas

Desfaço as vergonhas
que o tempo assumiu
e desfaço os nós
no caminho senil

Elisa.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009


Home sweet home

Cheguei em casa. Lar, doce lar, o que me resta. E, para espanto de todos, é doce mesmo, é lar mesmo: há roupas de molho no tanque, o lixo ainda está no baldinho, não tem nada comestível na geladeira, alguns pares de sapatos se amontoam na sala, a tv ficou ligada, a toalha branca está suja de rímel, a escova de dentes jogada na pia do banheiro. As janelas abertas, o computador empoeirado (vida curta), uma lata de red bull vazia em cima da mesa de jantar,
um pano de chão enegrecido de sujeira na entrada da cozinha, alguns copos para serem lavados, bananas podres fedendo em cima da geladeira. O par de tênis preso à janela com prendedores azuis, postos a secar.
Nada insólito, à exceção de um odor desagradável (leia-se cheiro ruim) saindo do banheiro que não é lavado há ages. Água sanitária resolve. Tchum e tchum. Banheiro lavado.
Não quero tomar banho hoje. Não vou tomar. E que se dane o mundo e seus conceitos estranhos de limpeza. Quero ficar suja, e daí? Quem me impede?
E não vou sair para comer, vou dormir com fome, quem me impede?
Ademais, tomei uma solene decisão: ninguem virá à minha casa. Se alguem telefonar, tipo assim: estou indo aí te visitar, vou responder simplesmente: venha não, estou de saída.
Vou criar baratas, adotá-las, por-lhes nomes e criá-las até à universidade. Formigas, de monte, serão minha legião de assistentes.
Vou virar uma ermitã, e vou criar lagartixas, essas coisas asquerosas que se esqueiram pelas paredes.
Ratos...? Never!
O sacrifício talvez me satisfaça. Talvez valha a pena...

Eu e Clarice

O que me aborrece não é a "comparação" com Clarice. Sei que é deboche, na maioria das vezes.
O que me aborrece é que eu mesma me sinto muito Clarice Lispector e não sei o que fazer com isso. Ainda bem que não parei na Alice do País das Maravilhas. A necessidade de me identificar com um ser humano deve ter levado a esse exagero de identificação. Querer ser clone de alguem grande é doença psiquiátrica. Imagino-me num asilo de velhos daqui a algum tempo, andando pra lá e para cá, com um cigarro na mão e queimando colchões diariamente: "Sou Clarice, sou Clarice!" E agarrando os visitantes pelos braços, sacudindo-os e gritando: "Não está vendo minha mão toda queimada, essa pele branca e linda, esse ar de nobreza, essa boca polpuda e esse nariz arrebitado? - Sou Clarice! Preciso escrever alguns livros, onde está minha Olga?" Sim, todos os grandes tem uma Olga.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Escorrem dedos pelas minhas costas, enquanto finjo. Caçando minha alma ancestral, nem desconfiam que sou lama. Não me toquem! Seus dedos gordos e seus lábios úmidos escorrem em meus braços; de qual planeta estão vindo? De Marte? Mas eu sou de Vênus. Não me toquem! Vivi no seu planeta durante algumas décadas, por isso estou sabendo.

Corpos.

Agora está difícil o salto, o peso que carregamos é enorme. Enorme. Que fazer com corpos tão pesados? Suas demandas de desejo, de socorro, de amparo, de sonho, de carícias?...Há, no entanto, um corpo vazio que cai, sempre à beira de algum precipício: você. Corpo ôco, fica no limite entre o consciente e o inconsciente, que a gente sabe que existe e é a razão do inconsciente, que, por sua vez é a razão mais lógica do sonho.

Você.

Tua alegria me perturba como se fosse tolice. Talvez num pouco de seriedade pudesses encontrar o sentido da vida. A lucidez talvez incorporasse a razão. Tú foges.

as histórias que os meus pés inventam

Os meus pés são luvas que calço para andar no céu. Alces que encomendo antes da "noite de natal". Voam longe e lá do alto os meus pés enxergam com seus olhos enormes de pés, o mundo. Sentados numa árvore branca e o céu azul, eles movem-se em direção ao nada de uma forma tão intensa que a infinitude para e ali, diante, ela contempla as histórias que os meus pés inventam.

boleros de terça-feira à noite

Ele estava lá. Sempre no mesmo lugar, na mesma mesa escondida por debaixo da velha árvore que ainda despejava mijo de potó de vez em quando. Barba bem cuidada, roupa esportiva e perfumado. Ali, todas as terças-feiras, ele arrumava uma namorada. Nunca vi os beijos e abraços que ele dizia trocar com as "meninas" debaixo da árvore, toda terça-feira. "Teve uma, casada, que levantava a toalha para nos beijarmos sem que ninguem visse". Naquele bar, a música troada era o som de velhos boleros. Às vezes um karaokê insuportável. Carlinhos era habitué, então era bem tratado pelos garçons e conhecido do dono da casa. Todas as terças-feiras saia dali cambaleante, a voz engrolada. Por sorte morava bem pertinho. Quando eu ia eventualmente àquele bar, numa terça-feira qualquer, ele insistia em que sentássemos juntos. A bem dizer éramos amigos de infância, pois nos conhecemos no começo da nossa terceira idade, quando a gente perde a noção. E, lá pelas tantas, Carlinhos começava a cantada, quando os olhinhos negros opacos pela bebida já não brilhavam como de caçador. Sem presa, Carlinhos voltava-se agora para mim, a ultima esperança da terça-feira. Eu ouvia pacientemente as odes aos meus encantos, inteligência e por ai afora.
Sinceramente, eu pensava na mulher dele - que estava em casa dormindo e, certamente, não o ouviria chegar com o nariz entupido de vick vaporub para disfarçar o cheiro forte de bebida que exalava das narinas. Depois podia roncar à vontade. Ela já tinha tomado o sonífero. Distribuindo sonhos...Carlinhos dormia.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sinto fome. Um buraco no estômago. Abro a geladeira. Leite desnatado, uma quentinha com a tampa de alumínio toda amassada, lixo para ela, eca! Três tangerinas azedas, uma bandeja de queijo gosmento e mortadela meio arroxeada - claro, lixo! No armário da cozinha: duas latas de milho verde, uma caixa com um restinho de sucrilhos light, óleo, um pacote de arroz. Nada de miojo, nada de macarrão, nada que simplifique a minha vida. Alguns pacotinhos de chá...procuro mais alguma coisa, uma lata de sardinha poderia ser a salvação...oh my God! Nada. E a fome aperta. Um ovo! Não - tá estragado, dá para ver, tem cara de ovo estragado. Não, não vou cheirar nada, tá maluco?
E a fome aperta.Coca-cola, mas coca-cola não é comida. Nem uma latinha de cerveja que equivale a um bifinho e dois ovinhos.
Vou ter que vestir uma roupa e sair para comer aquela lasanha de dez reais que trago para casa e fico comendo ainda por três dias. É uma resolução difícil essa, mas a única possível. Veja bem (vou mudar essa expressão), tenho que decidir se vou ou não comer lasanha por três dias seguidos, mais uma vez.
Tempos difíceis.
Tempos difíceis.