segunda-feira, 2 de agosto de 2010

saindo do túmulo

Saída do túmulo, ainda meio morta fresquinha, Macabéa levantou a cara amarelada e viu seu príncipe indo embora pela estrada afora.


Não era a primeira vez que um príncipe ia embora. Mas é que foram-se embora muitos príncipes, e isso é um desperdício de realeza.
- Onde vais?, pergunta a moça.
Ele olhou-a com desdem e nem se deu ao trabalho de responder à sua pergunta. Ela teve a ligeira impressão de que o viu cuspir de lado. Não duvidou, era bem seu estilo: palitar os dentes à mesa, colocar os cotovelos sujos em cima da toalha, chupar os ossinhos da galinha escaldada que gostava de comer às terças-feiras, arrotar, e ainda por cima essa de cuspir para o lado.

Menos mal, um príncipe a menos. Iria em busca de outro, agora novinha em folha, peito aberto a novos amores, novas aventuras. Estranha essa nova Macabéa. Antigamente ela não era de fazer essas coisas, mas agora ah! agora é vida nova!

Tinha aprendido algumas coisas úteis que poderiam servir na hora de se relacionar com esses machos empedernidos que andam por ai. Mas era tudo segredo. Segredo seu a quatro paredes. Nisso, o passarinho de plástico que ela comprou na vinte e cinco começou a cantar lá na cozinha. Apesar da porta aberta, ela ouviu, e isso sussurou-se um presságio aos seus ouvidos. Não era nenhum rouxinol, era de plástico, tão colorido que doi, mas...vá lá, Macabéa não mudou tanto assim.

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