sexta-feira, 18 de junho de 2010

Estava preparada. Sabia, desde muito, que era questão de tempo. Alguns urgenciavam a sua morte através de cartas anônimas, abaixo-assinados, mas ela resistia. Agora era a hora. Nada mais retardaria aquele momento crucial.
A forma? Ora, a forma de morrer ela podia escolher. Vários meios estavam à sua disposição: veneno para rato, umas quinze caixas de comprimidos para dormir na mesinha de cabeceira, dentro da gaveta; água sanitária, buscopan, whisky, poderiam fazer uma mistura fatal e ela deglutiria  a morte. Podia se atirar do Viaduto do Chá, podia... tanta coisa. É tão fácil morrer. Ela já tinha morrido algumas vezes, tinha experiência no assunto.
A decisão, entretanto, tinha que partir dela, antes não fosse (alem do trabalhão que dá se morrer, ainda teria que se matar).
Tinha pensado no caminhão de lixo. Quando ele passasse com aquele cheiro fétido e os homens de macacões amarelos recolhendo os sacos de lixo, nem perceberiam um corpo tão magro dentro do saco marrom. Poderiam até pensar que era um cachorro morto. E assim ela seria indiscutivelmente desaparecida do mapa, moída, triturada em seu corpo desamado.
E antes que subam a musa, ela decidiu. Sentiu uma dorzinha no peito apertando, talvez já fosse saudades da vida, mas estava decidida. Não queria ser sentimental naquele momento.
Friamente, apertando  o casaquinho preto contra o peito, num gesto que há muito abrigava seus momentos mais terriveis, decisivos -  Macabéa foi.

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