quinta-feira, 3 de junho de 2010

Senhorinha (pronuncia-se com "ó" - aberto)

Emnquanto esteve sentada ali, com os olhos parados no líquido que esborrotava da xícara,  Macabéa Alice chorou. Mas só um pouquinho, era só o que se permitia: duas lágrimas. Limpou com o guardanapo, abriu a bolsa e conferiu no espelho a situação do rímel. Seria o cúmulo desmonstrar a decadência em lágrimas de rímel escorrido, resquícios da maquiagem da noite anterior.

A seu lado, uma "senhorinha" - nome que aliás, detestava, mas já estava encarando a possibilidade de vir a ser detonada com esse apelido (a sensação talvez viesse a ser a  mesma de quando foi chamada de "tia?" -  ela estava em tenros trintanos à época - tia, o que?, nem te conheço!). Cabelo avermelhado, uma flor dessas, sei lá se de plástico, o quê, acima da orelha esquerda, olhava-a atentamente. Inquieta, Macabéa virou um pouco o corpo para o outro lado porque, a bem dizer, o que queria mesmo era comer seu pão com mortadela em paz. Mas a criatura não tirava os olhos dela. - Sei lá,! - decidiu Macabéa. E comeu seu breakfast.

Quando levantou para pagar a conta e tomar seu rumo, a senhorinha acompanhou-a com o olhar. Já se sabia intrigante, mas aquele olhar acompanhou-a o resto do dia. Na verdade, ela estava curiosa para saber  o que a mulher tinha visto nela: talvez a manga do casaquinho preto suja de café com leite, as migalhas de pão caindo-lhes na gola, o jeito sôfrego de comer...alguem vindo de um passado esquecido, uma ex-qualquer-coisa...

 "- Sei lá..."

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