sexta-feira, 4 de junho de 2010

Eu sei que tenho um jeito de maluca quando escrevo, quando ando, quando pinto, quando penso. Não me importo mais: que pensem! Não me importo mais, já me perdoei. Minhas carências são enormes, sou sincera. É dificil alguem gostar de mim porque sou visceralmente grudenta. Onde há sãos, estou eu, doente, e onde estão todos doentes, estou eu sã. Desfiguro as formas para me situar. Selvagem em busca de abrigo, procuro a minha tribo, e quando por acaso alguem me estende a mão, eu quero o corpo inteiro. - não fuja, não fuja!, submergida entre pessoas que apertam os olhos para enxergar.

Bizarra, estranha, bizonha são os adjetivos que me usam. Permuto risos de vez em quando com os que me suportam. Definho a cada dia, com dificuldades para dormir e respirar - mentira, e isso é mentira, também. Meus personagens desfilam diante de mim o dia inteiro. A cada um dou boas vindas. Um não dorme, outro bebe, a outra sofre, o outro ama, aquele alí desanda os andares do prédio todo com seu cigarro fétido, eu sonho...
Os dias ora se arrastam, ora - surpresos comigo, se arrebentam quando o sol esfria. Somos todos irmãos, escuto e entendo, mas não faço. Tenho preferências, assim como tendências. Sou ruinzinha e terrível muitas vezes, e, assim como criança, confesso e me castigo. O que escrevo não tem nada a ver comigo, não tem. Consigo ser outra quando escrevo, e isso é o que me salva da loucura. Estar sendo outra todo o tempo.

lhando minha boca no espelho, meus olhos na varanda, as curvas dos meus lados, tudo se esgueirando entre rugas que nascem em profusão.
Vejo nitidamente o prato de comida colorido em todas as cores para ser perfeito o verde predominando que aquieta e acomoda as outras cores. Carece de amarelo-luz, mas eu não quero. Coloco preto. "Preto é um buraco na tela" - não interessa, quero buracos negros nas telas.
O barulho do mundo às vezes me atormenta, quando preciso de paz e silencio para crescer dentro da mim a terrível planta que vai me destruir como uma sanguesuga.

Atrapada na garganta de um carangueijo, (venham , venham, fontes benfazejas, despejem-me sobejo entre as pernas da adorável Cinderela que eu fui), nado como todo poeta que se pretende no mar que oscila entre o perfume e a podridão, e amor e escuridão, entre rimas, navego, ora...! Posso, enfim, dizer que sou poeta? Nunca, esse desafio parte ao meio o meu cérebro. Quero apenas essa parte anuviada, tenieblas de la solidão, fazendo-me companhia apenas o que quero: reis, párias e poetas no castelo.

Nenhum comentário: