sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Verso de cansaço

Poupa-me. Do tempo de abrir portas e janelas para que entre a vida que não quero.
Poupa-me dos absurdos de não ser. Apenas poupa-me a trilha do caminho que me leva alem do ponto escuro -  poupa-me, suplico.
Apenas do nascer do sol e da água que dói ao meu contato mínimo, de tanto que meu corpo anseia.
Poupa-me do tempo que me envelhece e destrói minhas magias, feiticeira embuste sem tréguas do tempo consumido.
Poupa-me de ser apenas a tua mulher, mais nada. Fui. E restaram apenas símbolos, arquéticpos e sonhos encravados.
Poupa-me de sonhar teus sonhos e lamber tuas feridas. De ser cão e dona ao mesmo tempo.
De voltar e ir em direção incerta.
Poupa-me de olhar indefinidamente para o telefone, a esperar tua chamada, poupa-me!
Deixa-me um mês, um ano, um tempo incerto sem tua onipresença incômoda da falta do amor que morre, deixa-me.
Poupa-me de ser estrela ambulante que perdeu o brilho, o brilho, a madurez roubada, o viço, esplendor ferido por tua mão bruta a escanear minhas entranhas.
Deixa-me!  E evita-me ouvir essas palavras roucas, loucas, estúpidas que saem da tua boca objeto do meu nojo e pavor.
Talvez eu abra portas e janelas para o horizonte, para a vida que me foi tirada. Vai e deixa que essas mesmas portas que continham sangue e suor, sejam apenas minhas lágrimas.
Ai, deixa-me, estou tão cansada...! Apenas a solidão poderá ser salva se tu me deixares...

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