terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Eu sei que tenho um jeito de maluca quando escrevo, quando ando, quando penso. Não me importo mais: que pensem!  Não me importo mais, já me perdoei. Entrelinhas e borrões fazem o meu pensamento. Construo muros e pontes até não poder mais. Definho muito a cada dia, com dificuldades para dormir e respirar. Tudo mentira, e isso é mentira, também. Meus personagens desfilam diante de mim o dia inteiro. A cada um dou boas vindas. Um não dorme, o outro bebe, a outra sofre, o outro ama, aquele alí desanda os andares do prédio todo com seu cigarro fétido, eu sonho...

Os dias ora se arrastam, ora -  surpresos comigo, se arrebentam quando o sol esfria. Somos todos irmãos, escuto e entendo, mas não faço. Tenho preferências, assim como tendências. Sou ruinzinha e terrível muitas vezes, e, assim como criança, confesso e me castigo. O que escrevo não tem nada a ver comigo, não tem. Consigo ser outra quando escrevo, e isso é o que me salva da loucura. Estar sendo outra todo o tempo.
Olhando minha boca no espelho, meus olhos na varanda, as curvas dos meus lados, tudo se esgueirando entre rugas que nascem em profusão.

Nado como todo poeta que se pretende  no mar que oscila entre o perfume e a podridão, e amor e escuridão, entre rimas, navego, ora...! Posso, enfim, dizer que sou poeta? Nunca, esse desafio parte ao meio o meu cérebro. Quero apenas essa parte anuviada, tenieblas de la solidão, fazendo-me companhia apenas o que quero - elegendo reis, párias e princesas no castelo.

Claro que fiz tratamento - claro, foram quatro anos de terapia intensiva. Como todo louco, eu me dei alta, depois mandei um quadro de presente para o médico, além de pagar a conta. O quadro tem muito valor para mim, ele, provavelmente, vai jogar no lixo. Ou trancar a porta do galinheiro com ele. Depois vai saber o que está perdendo. Meu trabalho é "artístico", me dizem isso como elogio. Não entendo. E daí?
É por que não sabem o que dizer - é difícil, eu sei que é um trabalho que poucas pessoas conseguem gostar. Apenas as que compram minhas telas, são capazes de gostar...aí eu sei que elas gostaram, porque pagaram.

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