quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ensaio sobre a sensualidade madura/versão inglesa

Ela não desistia. Já tinha feito exercícios de ballet clássico praiano, dieta sem carbohidratos, não bebia mais à noite, tinha rezado, jurado promessas de mudanças, participado de maratonas, tinha-se enfeiado ao limite, usando somente preto, duas alianças na mão esquerda, cabelo preso, mas nada, nada acontecia de amortecer aquela coisa viva dentro dela. Sem perdão. Exposta, o homem não perdoa. "Ainda?"
Os jovens ficam chocados, alguns enojados, as mulheres mais jovens não entendem ("ainda"?).
"A sensualidade na maturidade só é permitida aos homens e eles procuram jovens porque pensam ou, pior, constatam que as mulheres maduras são frígidas e desinteressadas por sexo. Os modelos que conhecem de casa não podem saciar ou exorcizar a sede de sexo que eles tem cada vez mais, mesmo em idade avançada, alimentados que são pela mídia, pelos comportamentos altamente sexualizados das pessoas e a lei da oferta/procura sempre, eternamente, foi favorável ao homem; na atualidade, muito mais, já que não precisam armar-se e ir à caça: uma mesa e uma garrafa, um copo, e o macho está pronto para agarrar a presa fácil. Assim de fácil. Não há tempo a perder com coisas difíceis. Vapt, vupt, as Margaridas resolvem o drama. Normal, tudo normal, se não houvesse o outro lado".

Que outro lado é esse? -  perguntaria a amiga, se tivesse uma.

Enquanto meditava nesses assuntos e outros de igual importância, Elizabeth Macabéa, uma pensadora de origem inglesa com veios de nobre estirpe do Nordeste do Brasil, digeria um suco de laranja acompanhado de pão cheio de carocinhos chamados gergelim, enquanto observava o horizonte terminado em azul de praias e barquinhos à vela.

Tambem meditou naquela manhã sobre a importância do cafe da manhã na vida de uma mulher.. É o cúmulo da solidão tomar o breakfast sozinha, pensou lá com seus insights ácidos, antes da primeira magnésia bizurada do dia.

Decidiu, portanto, baseada em tão importantes averiguações filosóficas, que iria morar num hotel. Sim, nos hotéis ingleses, o ritual do breakfast é fantástico. As pessoas tiram o jornal daqueles pendura-jornais (newspapers), leem enquanto sorvem absolutamente longos goles de alguma coisa parecida com café, um cheiro adocicado (SWEET) desce pelas narinas fumegantes, yes! cigarretes! e todo mundo se comporta elegantemente porque talvez seja a última chance de fazê-lo, pois que vem por aí o fog, e essas coisas absolutamente londrinas, cheias de charme, desejo enorme. Cool.

Sem dinheiro para ir ao shopping e sem cigarros há muitos anos, Elizabeth Macabéa de repente sentiu-se, de novo, novamente, again, sozinha no mundo.

Que fazer, Liz? -  é a vida. "Viver...ehê"...Vamos ao que interessa.  A La Chasse! Casaquinho preto no braço magro, ar de lady destemperada e boçal, completamente blasé,  levanta-se e pega o beco, lembrando-se vagamente das Margaridas que conheceu na vida.








normal

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