quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

a arte de escrever em público/a grande feira

Ausente de emoções é como deve ser. A arte, as comparaçoes, as vivências, devem ser expurgadas em outros cantos. Não se deve deixar escapar nada de sobrevida e desamores. A vida pode ser cruel, mas a gente tem que fazer a limonada...e colocar gelo. Esfriando todas as partes do ser, descongelas as veias e partes. Escrever é inventar, criar, mas tuu não escapas pois teu coração desperta a cada dia com loucuras a serem escritas e inscritas de alguma forma, antes que morras. E tudo passa a ser questão de vida ou morte. O papel submisso toma formas violentas e, como teatro, escreves e és lido ao mesmo tempo.
Nas novas maneiras, não escapas de julgamentos frios, severos ou benevolentes - ou sinceros, ao tempo em que constróis personagens e observas da tua cadeira de mestre, os outros mestres e os aprendizes sabotando ou amalgamando a massa como deve ser.

Catarses à parte, concentras-te na frieza e dedilhas no teclado já em desbote de tão gasto, as aventuras que viste, leste ou viveste, ausenta-te de emoções e partes. Camuflas as palavras e te escondes, como no jogo, por detrás delas e amarras com forças teu ego para que não sobressaia e não te roube a ti, teu próprio texto. Sérios, circunspectos, concisos, os textos envergam a tela e outros nem tão levados em conta, como braçadeiras e algemas são deixados de lado na enorme feira.

Descartas emoções que veem à tona, o cimento da amálgama é verdadeiro, e há que enterrrá-lo junto às paredes? Talvez não seja necessário.O crucial é que escondas o teu verdadeiro. E mintas, sempre, sempre. Aqui e ali talvez te caibas em um pequeno texto, escondido em meio às flores que a platéia joga, se as queres de volta, pois tu mesmo as jogaste na esperança de colhê-las paradoxos.

"A cena é uma enorme parede que fica num beco escuro, sujo e fedido, perto da minha casa. Ali ela estava, e do batom manchado na sua boca escorria um caldo estranho, avermelhado. Era sangue."

Um bom começo.

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