Até ai nada de fora do comum. Mulheres comuns, homens comuns, casamentos atolados em dívidas e desesperos. Mais um.
Seu crepúsculo tem sido igual a qualquer um. De solidão, angústias pequenas e grandes, saudades, remorsos, confissões de pecados, e um tédio assolador. Um crepúsculo sem esperanças, sem netos, sem filhos, sem amigos. Desde o dia em que saíu para não voltar, erra sem rumo em meio a pessoas que não querem saber dela. Quantas vezes pensou em morrer, grande coisa - dirias, quem não já pensou nisso?
Diga-me, quem? Tampouco grande coisa. Uma história comum, embora a Macabéa da sua vida tenha dado saltos enormes e quedas equivalentes a aguardaram sempre, ela sempre se refazia. Forte e faceira, matreira em todas as idades, viveu completamente mergulhada na loucura controlada. Hoje da Macabéa rápida e fagueira, resta uma velha. Nem tanto, me dirias. Sim, repito. Tinha lutado com todas as forças pela Macabéa doce e real que existia nela - aquela sem grandes sonhos, mas tambem sem pesadelos, que consultou a cartomante e acreditou no destino feliz. E na hora de morrer tinha um sorriso no rosto. Quantos rostos, quantos sorrisos...Macabéa morreu atropelada. Não sentiu a agonia da morte porque o que ela viu foi seu príncipe, e não seu algoz, nem a cara do coveiro. Com um sorriso nos lábios, foi-se para sempre. Mas deixou uma saudade impertinente, uma falta de jeito para crescer e ser feliz; sua morte ocasionou a dela.
Dores crepusculares nos joelhos, perdendo o gosto pela alegria, embotada de pequenas tristezas, procura nos olhos algum brilho, um reluzir, uma chama que reafirme a certeza de que está mais Macabéa do que ontem, um pouco e...nada!
Reduzido a cinzas o corpo já desliza para a cova, onde, entre outros, está seu filho. Não chora mais, nem a arte, nem a fé, nem as poucas relações que ainda tem são consoladoras. Filmes, tv, algumas cervejas, um telefonema, algum plano insosso sobre pintar um quadro...Está-se esvaziando e sabe que é o fim.
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