terça-feira, 11 de maio de 2010

tarde fria (sinto frio nalma)

O ar está cortantemente seco. Coisa de 20 por cento, deve ser. Das narinas o sangue escorre de vez em quando. Hoje seria dia de faxinar a cozinha, pois é o único dia de folga. Mas, deixa para lá, Macabéa vai descansar as pernas. Há muitos anos não fumava um cigarro. Deu vontade. Procurou nos bolsos dos casacos cheirando a mofo, nas bolsas velhas, dentro das gavetas, inclusive na gaveta dos talheres, dentro de caixas de documentos, caixinhas de bijuterias - sim, pois naquele tempo de fumanete, havia bitocas e cigarros amassados em toda parte, todo cantinho da casa. Ah, mas já não era a casa, senão, certamente, haveria uma bitoquinha na janela do banheiro. Sair à padaria, comprar um maço, eis a questão. Foi.
- Tem cigarro?
A moça olhou para cima, para a enorme vbitrine cheia de entusiasmados rótulos de cigarros flamejantes de cores, rótulos com fotos de um homem morrendo, um outro todo ligado em máquinas, uma criança chorando..e nem respondeu a pergunta. Macabéa olhou, olhou, a fila impaciente já cutucando um pouco.
- Tem fraquinho, cigarro fraquinhgo?
Um senhor indicou com a mão: aquele ali é fraquinho.
Comprou e voltou para casa apertando entre as mãos congeladas o maço nojento de papel sedoso. Abriu ao chegar em casa, acendeu o fósforo, chupou o veneno para dentro e não veio nada. Chupou com mais força, nada.
- Bah, isso não é cigarro! E jogou no lixo o maço. Mas lembrou de guardar umzinho no fundo da mesinha de cabeceira.

Nenhum comentário: