domingo, 16 de maio de 2010

Era como se a moça andasse sobre as águas, desarraigada, pensando, pensando, confundindo água e terra, espaço e tempo, sombra e luz.
As únicas coisas que despertavam nela algum sentimento alegre era estar na rua com pessoas, nas praças, conversando com mendigos, com garçons, à margem da vida burguesa que tinha vivido até agora. Ela desistira, e desistir era a pior coisa a fazer. Desistir implica em muita coragem e força. Era disso que ela precisava, isso que estava procurando.. Ela estava sendo egoista ao querer tirar Macabéa Alice da sua desistência.
Deveria deixá-la como está, vagabundeando por ai, como se não tivesse nem família, nem mãe, deserdada da pátria amada - coisa que ela detestava e retrucava sempre com violência: não tenho Pátria! Sou cidadã do mundo. Chavões satisfaziam Macabéa num sentimentalismo um pouco teatral e fora de época. Desemxabida, procurava seus iguais.
Houve um homem há bem pouco tempo, mas ela foge. Foge. Às vezes aparece de olhos brilhantes, figura reluzente, com um brilho todo especial que havia cavado por entre os pensamentos fundos, trazidos à tona. Tinha planos secretos e inconfessáveis. Guardava-os como quem guarda ouro em pó. Não encontra a paz, e em suas errâncias já desabou por muitas estradas e veredas misteriosas. Viveu em muitos mundos, muitas vidas numa só.
Mas...o que estava ela tentando fazer com a Macabéa, o quê? Perguntava-se, o tempo haveria de responder.

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