domingo, 30 de maio de 2010

Domingo à noite, hora de ser melancólica. Dizer o por quê de tanta saudade, de tanta ansiedade, se já se foi  ou fica. (Onde está o seu quadrado?) Tira com sabonete o anel de lata do dedo inchado.

Começou a escrever com a mão fria, sem graça, sem vontade, quase como quem toca ao piano sempre a mesma música.

Hoje passou pela rua e não viu nada interessante. E, novamente, a sensação de ausência predomina e ela volta a enxergar os outros seres como seres são: simplesmente seres sem graça.

O rapaz do caixa não sabia quem era Manu Chao, é um pouco antigo, talvez, Manu Chao. Explicou simpaticamente as razões que ela mesma desconhece. Comprou por causa da música Clandestino. Esta noite sente-se especialmente clandestina, quer apenas vagar entre sons conhecidos, decifrar um pouco as charadas que a semana debulhou astutamente diante dela.

Noticias do mundo de lá chegaram. Um mundo onde se plantam e se colhem maçãs e kiwis. Depois, o silêncio inimigo. Está covarde hoje, está...não sabe. Domingo à noite é sempre um pavor, quem não sabe disso - só não sabe quem não quer. Homens se matam, casamentos se acabam, ciumes exacerbados reavivam velhas brigas, famílias desintegram-se. Tudo no domingo à noite. As gentes ligam as tv, estateladas de cansaço - sim, domingo cansa!, e fingem que foi bom o fim-de-semana. Outros amaldiçoam o trabalho que está às portas, amanhã bem cedo. Desenganos, embaraços, tudo acontece no domingo.

Macabéa está farta de domingos, prefere as segundas-feiras.

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