terça-feira, 13 de abril de 2010

dieta macobiótica (corrigida) tá tuim mesmo não dá


Aliás - pensou antes de se dar conta do que estava fazendo, não vai faz me fazer mal algum praticar a paciencia, a generosidade, o altruismo.



Enfrentou com galhardia os degraus escurecidos da escada e respirou fundo: um, dois, três, quatro, cinco, seis. A voz saiu um pouco falsa, desafinada e alta demais quando ela tacou um "Bom Dia"! lá do primeiro degrau. A mulher respondeu com um daqueles suspiros horriveis e profundos.



Fez de conta que nada tinha acontecido. Zerou o relógio e colou o sorriso disposto no rosto largo. Colocou um ovo para esquentar, e a criatura exclamou horrorizada "você vai comer isso, ovo cru?" Vou! - respondeu seca enquanto olhava aquele amassado de banana que era a papa que a senhoria comia todas as manhãs. Coisa de umas tres ou quatro bananas amassadas pacientemente com o garfo. O cheiro de banana exalaria o dia inteiro vindo da cozinha, da sala e do corpo da mulher. Aquilo era enjoado.



Riu um pouco quando lembrou que ontem comeu uma pizza que estava na geladeira há três dias sob o olhar petrificado da senhoria macrobiótica que, por ironia, tinha o corpo coberto de pústulas sangrentas e repugnantes.



Pacientemente, a boa Maca lavou os utensílios que tinha usado e escutou mais uma vez as loas à comida vegetariana, à longevidade, à saúde, "já comeu cogumelos do sol?", "eles disseram que vai chover hoje". O universo dela era repleto de "eles": eles dizem isso, aquilo, eles os pretos, eles os nordestinos..





Paciencia curta, Macabéa agarrou rapidamente o casaquinho preto dependurado no cabide, jogou para o alto o exercicio de paciencia a que se tinha proposto, largou o ovo quente, o pão vencido ("já olhou a data?..acho que está vencido") e foi lépida e fagueira tomar seu café da manhã na padaria, amtegozando o gosto do presunto, da mortadela, manteiga, café com leite, e, ainda o suculento bife quase vivo que comeria no almoço.

Nenhum comentário: