terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Despedida de Macabéa da Mota

Não há nada, absolutamente NADA a ser feito. Estava tudo preparado, as malas feitas e refeitas trezentas e tantas vezes esperavam no corredor vazio. Alguns últimos detalhes e estaria tudo terminado. Maca lembrou-se de filme de terror, algo supérfluo como "o crime perfeito".

Sabia que deixaria rastros e sequelas -  rotinas que o tempo não abate, prestações e outras coisas guardadas em armários emprestados. Tudo bem, respirou fundo. A mala está mesmo pesada. Desapegar-se. Mais roupas fora da mala, melhorou o peso.

 Homens covardes que não tiveram a coragem de olhar de frente, perderam-na. Seu amor perdeu-a. Amor, que amor? Nunca houvera. O tempo fora gasto com a vida, com as horas passando e repassando no outro dia, ligeiras incomodações, percalços financeiros, enfim... vida!- um tremendo enfado.

De repente (não posso subtrair essa palavra) as pessoas danaram-se a fazer despedidas em sua homenagem "ah, que falta você vai fazer..." mentira. Por que não sentiram a presença, vão sentir a falta? Tomara, pensava ela lá no íntimo, tomara que sofram...mas que nada, nem vão lembrar, é assim mesmo. Talvez uma foto, uma notícia na coluna da secretaria de cultura, algo assim, um nome na lista dos emails, algum comentário "foi atrás de homem",  assim caminha a humanidade. That´s all.

"Aquela, com é mesmo o nome dela?" Fica por aí, não passa disso: um nome esquecido. Fica nisso.

Arruma-se ligeiramente com os restos da maquiagem que restou na bolsinha de plástico transparente, até que termine, depois disso, não mais, decididamente não vai mais usar maquiagem. Desapegar-se, cara limpa. É isso.

A dúvida era só a última dúvida. Era quanto ao casaquinho preto. Ao tocá-lo, sentiu uma nostalgia fina e meio cúmplice. Tinha que desapegar-se ou tingí-lo..

É isso.

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