terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Carnaval...eu, hein? Odeio.

Debaixo da mesa. Com medo. As pessoas estavam gritando e pensando alto. Tapava os ouvidos com as mãos e a toalha branca cobria todo o seu corpo. Ficou ali até de manhã, acabou dormindo debaixo da mesa e as pessoas nem deram falta dela.

Talvez fosse nova demais para aquela festa tão adulta, tão barulhenta. Resolveu que nunca mais iria ao carnaval, nem que vivesse cem anos, e sempre que lhe perguntavam: gosta de carnaval, respondia - odeio!

Passados tantos tempos, Macabéa ainda tem um trauma com relação ao carnaval, e, estranha comparação, para ela é igual à semana santa, a missa de sétimo dia, velório. Associa, pois, o carnaval a luto. Naquele dia tentaram matar o que ela tinha de festa em si.

Era mesmo metida a besta, madamezinha metida a besta. Pois não é que não gostava de multidão, de "pooovo", dizia com aquela vozinha arrastada...metida mesmo?

Um dia, depois desses anos passados, foi a um Baile da Saudade. Garantiram-lhe que não era como os outros. Seria como era. Foi. Estava lá a velha orquestra daqueles tempos, Ivanildo e seu conjunto. No começo, tudo bem, Macabéa até ensaiou uns passinhos, ficou animadinha, coisa e tal. Os foliões eram todos senhores e senhoras e dançavam daquele jeito que todo mundo sabe: com os braços arribados e os dedinhos duros mexendo-se de um lado para outro. Do jeito que era engraçado.

Deu meia-noite, porém, a bagunça começou. Estavam todos bêbados e não sabiam mais que o tempo tinha passado. Perderam a noção.  Uns e outros vieram agarrar Macabéa para levá-la ao salão, à força. Ela não queria, não foi. Ficou chata e esqueceram-na depois que ela demorou muito no banheiro. Daquela vez não poderia esconder-se debaixo da mesa, mas podia sim, pegar as chaves do carro e ir embora. Foi.

Decididamente, Macabéa não suporta carnaval. Agarrou seu casaquinho preto e correu para casa, onde estava seu carnaval: uma boa garrafa de vinho e um filme na TV. Não disse que Macabéa é besta?

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