sábado, 6 de março de 2010

Melodramática, cruel e falsa é a inquilina. Lembram do filme "A Malvada", com Betty Davis? Então, a própria. Cheia de feridas no rosto, na pele dos braços, escorrendo sangue pelas unhas, prepara a comida. Macabéa não sabe que colher, que garfo usar. Tem nojo. A mulher alta, magra com traços aschewitzianos coça as feridas e vem as unhas cheias de sangue nas crostas descadadas das mãos. Nojo.




O colchão tem um tremendo buraco no meio e afunda. Maca sente dores nas costas. A mulher diz "deve ser o peso". De quem, meu? - diz Macabéa assustada. Engordei tanto assim? As escadas são muitas: para ir ao quintal, para ir ao banheiro, para ir lavar roupa no tanque, para descer e sair da casa. Tem porão tem sotão, e a ínquilina poderia jurar que há cadáveres escondidos debaixo dos móveis, incrustrados nas paredes. Pó, muito pó. Os espelhos são cobertos com panos ordinários, tudo tem um paninho em cima.



Cada vez que ela sai seu quarto é investigado e quando volta, a mesinha de cabeceira, o cabide tokstok com as roupas, a mala que está no chão, a penteadeira (...), tudo está coberto com os paninhos. Dobra e põe no corredor, sobre uma mesinha. Paciente, Macabéa somente hoje reclamou do colchão. "Impossível, meu sobrinho, que pesa cento e vinte quilos dormiu muitos anos aí. Agora ele está numa clínica por causa da esquizofrenia, mas fazia todas as coisas aí". O quê? Quê coisas, dona Fulana? "As coisa". Explicado.



Saiu aterrada, com dores nas costas, onde ir? Ao metrô, com seu livro. Resolveu volver a ler Kafka comprado na banca de revistas. Tirou um guardanapo da bolsa e começou a escrever: comprar colchão,

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