quarta-feira, 11 de março de 2009

Pronto, era o que me faltava. Perdi um braço. Agora só tenho um, o esquerdo. O que fazer com um braço apenas? Não sei. Sei que quando eu tinha dois braços fazia um monte de coisas, ou...pensando bem, o que os meus braços faziam...não me lembro. Talvez fosse o lado da memória esse que estava em meu braço perdido. Como o perdi? Lembro-me vagamente que estava sentada na coxia, passou uma menina e perguntou quantos anos eu tinha. Respondi: mais de cem, por que? Ela disse: minha avó tem sessenta e quatro. Depois me lembro de algumas luzes muito fortes incidindo sobre meus olhos e eu queria tapar os olhos com as mãos mas não conseguia mexer os braços, ou melhor, não conseguia mexer o braço direito. Ou eu o mexia mas ele não obedecia ao comando. Ouvi sirenes e sons que nunca havia ouvido antes. Gritos e estrondos. Pensei, acho que pensei: até que enfim é o fim do mundo. Quando acordei (?) eram muitos dias depois daquele dia. Impossível lembrar. A memória tem limites. Foi há muito tempo.
Saí por uma fresta escura e úmida, e quente. A luz me cegava. Havia uma dor profunda no meu braço, mas era uma dor que não doía. Uma dor quente. Amiga. Amigo que morre e deixa saudades. Essa dor era o meu conforto. Quando ela passou eu sabia que não tinha mais o braço.
Não é um problema muito grande, já que estou conformada e uso o meu braço esquerdo, minha mão esquerda, tudo esquerdo, com maestria. Toco piano a uma mão, flauta e violão, canto e danço. Tudo meio macabro, mas faço, isso é que importa. Escrevo mal porque sou incompleta. Pinto mal porque sou incompleta, mas quem não é?

Nenhum comentário: